Universitário é baleado e morto em perseguição policial na Zona Leste

PMS e GCMs alegam que revidaram tiros de Julio Espinoza em São Paulo. Estudante de 24 anos não teria passagens pela polícia.

Por Kleber Tomaz Do G1

Um universitário de 24 anos foi baleado e morto durante suposto confronto numa perseguição policial na Zona Leste de São Paulo na madrugada desta segunda-feira (27). Policiais militares e guardas civis de São Caetano do Sul, do ABC, que participaram da ação, alegam que revidaram disparos feitos por Julio César Alves Espinoza.

A morte cerebral de Espinoza foi confirmada na manhã desta terça-feira (28) pela assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Sáude. Ele tinha sido baleado na cabeça e estava internado no Hospital Geral da Vila Alpina.

De acordo com policiais do 56º Distrito Policial (DP), na Vila Alpina, onde a ocorrência foi registrada, policiais militares e guardas civis disseram que Espinoza acelerou o carro quando notou a aproximação dos agentes de segurança.

Ainda segundo os policiais civis, o carro do universitário bateu em um muro e depois numa viatura. Nesse momento, os agentes disseram ter visto um clarão e ouvido estampido dentro do veículo e, em seguida, revidaram.

Policiais e guardas contaram à Polícia Civil que Espinoza portava uma arma e estava com um pó branco dentro do carro. O revólver e o produto foram apreendidos para serem periciados.

De acordo com policiais do 56º DP, o jovem morto não teria passagens pela polícia. Como o caso envolve a ação de agentes de segurança, ele deverá ser investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

O caso foi registrado como “desobediência, resistência, disparo de arma de fogo, homicídio decorrente de oposição a intervenção policial e porte ilegal de arma de fogo”.

A equipe de reportagem procurou as assessorias de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e Polícia Militar (PM) para comentarem o assunto, mas elas não responderam até a publicação desta matéria.

Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Segurança de São Caetano do Sul informou que “foi aberto um procedimento administrativo interno e a Corregedoria da Guarda Civil vai apurar a atuação dos agentes.”

A equipe de reportagem não conseguiu localizar os parentes de Espinoza para se posicionarem. Na página do jovem no Facebook, consta que ele cursava Tecnologia Logística na Uninove da Vila Prudente, e era torcedor do Palmeiras.

ouvidor

Suspeita de execução
Procurado pelo G1, o ouvidor das Polícias de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, afirmou que pedirá ao Ministério Público (MP) e a Corregedoria da PM e a secretaria responsável pela Guarda Civil para acompanherem o caso, considerou suspeito de execução.

“São muitos tiros. Foram 16 disparos contra o carro e um deles atingiu a cabeça do jovem, que morreu”, afirmou Neves. “Ficamos surpresos com a quantidade de tiros. Ainda mais ao saber que o suspeito é um universitário, aparentemente sem passagens pela polícia”.

Segundo o ouvidor, será solicitado o afastamento dos policiais e guardas envolvidos na ação. “Estamos numa onda de ações policiais com o resultado morte. Isso tem de parar”, falou. “Outra crítica que faço é com os guardas civis que estão insistindo em perseguir gente, quando isso não é atribuição deles”.

São muitos tiros. Foram 16 disparos contra o carro e um deles atingiu a cabeça do jovem, que morreu”

Menino de 11 anos morto
Neves lembrou o caso do menino de 11 anos que foi morto por um guarda civil metropolitano de São Paulo no último sábado (25) também durante suposto confronto em Cidade Tiradentes, na Zona Leste da capita. Segundo os agentes, motociclistas contaram ter sido roubados por dois homens que estavam num carro prata.

Os guardas identificaram o carro e começaram a persegui-lo, quando, segundo eles, os ocupantes atiraram. No revide, um tiro atingiu a nuca do garoto, que estava no banco de trás. O veículo foi abandonado. Os criminosos fugiram a pé, segundo os agentes.

O menino foi deixado no carro. Ele ainda chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Adolescente de 15 anos morto
Outro caso de morte decorrente de intervenção envolvendo agente de segurança havia ocorrido na mesma região na sexta-feira (24) passada. Um adolescente de 15 anos foi morto num suposto confronto com policiais militares na Zona Leste. Ele era suspeito de ter roubado um carro, que abandonou durante a perseguição.

Segundo os policiais, o jovem entrou numa mata e disparou. No revide, três tiros o acertaram _no peito e na boca. Um dos disparos teria partido de um fuzil. O adolescente foi levado a um hospital onde morreu.

Garoto de 10 anos morto
No dia 2 de junho, um garoto de 10 anos foi morto com um tiro na cabeça também durante suposto confronto com policiais militares numa perseguição. O menor havia furtado um carro com um colega, de 11 anos, na Zona Sul de São Paulo.

O menino sobrevivente deu versões diferentes para o caso. Antes havia confirmado a versão dos policiais de que o amigo atirou contra os agentes, que revidaram. Depois falou que a arma foi “plantada” e que o colega foi executado.

Por questões de segurança, o menino de 11 anos entrou no programa de proteção à Criança e Adolescente Ameaçados.

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