Seminário discute a luta de família pelo fim das prisões

Nos dias 4 e 5 de julho, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, acontece o I Seminário Internacional organizado pela AMPARAR (Associação e Familiares e Amigos de Presos e Presas), com apoio da Conectas, Frente Estadual pelo Desencarceramento-SP, Fundo Brasil de Direitos Humanos, IBCCRIM, ITTC, NESC, Pastoral Carcerária Nacional, Kilombagem e SAJU Cárcere. O tema do evento demarca claramente o seu horizonte político: “Resistência das familiares: do sofrimento à luta pelo fim das prisões.”

por De Amparar no Negro Belchior

imagem- Blog Negro Belchior

Nesses dois dias, representantes de organizações de familiares de pessoas presas da Argentina, Brasil e Estados Unidos – com a colaboração de parceiros do campo jurídico e dos direitos humanos – partilharão suas experiências organizativas e o acúmulo prático e teórico que construíram ao longo de anos no solo saturado de sangue e lágrimas do sistema prisional. É com luto e sofrimento, mas também com solidariedade e resiliência, que essas familiares forjaram suas armas políticas para enfrentar esta realidade.

Esse encontro, portanto, não nasce de uma estéril curiosidade acadêmica, mas da urgência que brota da necessidade de se enfrentar um inimigo que não conhece fronteiras nacionais e se enraíza em organizações de esquerda e direita. As políticas penais de extermínio, como a infame “guerra às drogas”, a propagandeada política de “tolerância zero” e a crescente mercantilização da pena, atravessam todo o continente, deixando incontáveis vítimas pelo caminho e rasgando ainda mais as veias expostas da América.

Dos centros do capitalismo global partem as diretrizes mais sofisticadas dessa política, mas é a periferia desse sistema que fornece o insumo humano que mantém acesas as caldeiras da indústria do encarceramento em massa. Basta olhar com atenção e veremos que as populações que enchem as prisões do Norte são as mesmas que abarrotam os calabouços do Sul: descendentes dos povos da diáspora africana e das populações nativas do continente, aos quais se juntam massas crescentes de excluídos de uma sociedade de mercado instável e darwinista. Gueto, favela, quebrada, cadeia e rua cada vez mais tornam-se, em qualquer idioma, termos intercambiáveis que designam os mesmos territórios onde esses sujeitos vivem expostos à morte.

Sobretudo, esse seminário marca o necessário protagonismo definitivo dessas familiares, que habitam a terra sem nome entre o lar e o sistema prisional. São elas – nem presas, nem livres – os sujeitos capazes de costurar os elos entre esses e outros espaços e tramar formas de resistência insubmissas e incolonizáveis. Mais do que nunca, é hora de ouvirmos as vozes dessas mulheres que se levantam pelo fim das prisões. Como disseram os presos rebelados na Penitenciária de Attica (NY), em 1971, que seja apenas o som que precede a fúria dos oprimidos!

 

Expediente:


Evento: Resistência das familiares: do sofrimento à luta pelo fim das prisões.
Dias: 4 e 5 de julho
Local: Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Programação: https://www.facebook.com/events/398435847426849/ 

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