As mães ‘órfãs’ de filhos que o Estado levou

Em plena democracia, policiais matam cidadãos e não assumem a responsabilidade pelo crime, muitas vezes acusando a vítima. Mães se unem para dar visibilidade a seus filhos mortos e cobrar a dignidade de terem a memória deles reparada

Por Felipe Betim e Toni Pires, Do EL País

Bruna Mozer - mulher parda de cabelo cacheado- segurando um cartaz escrito "Não vamos nos calar!" com a foto de seu filho, Marcos Luciano, e a data da morte dele (15/12/1999- 17/02/2018)
Cr protesta em Goiânia com outras mães, no dia 20 de maio. (Foto: T. PIRES)

Maria de Jesus da Silva, mãe de Renayson. Bruna Mozer, mãe de Luciano. Marilene Araújo, mãe de Eliezer. Marcia Jacinto, mãe de Henry. Cleonice de Freitas, mãe de Daniel. Arlete Roque, mãe de Alex. Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius. Adriana de Farias, mãe de Wallacy. Gláucia dos Santos, mãe de Fabrício. Maria do Carmo Silveira, mãe de Thiago. Luciana Pimenta, mãe de Kauan. Luciana Lopes, mãe de Lucas. Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha. Marinete Silva, mãe de Marielle Franco — e, desde que a vereadora do Rio de Janeiro foi executada, mãe de muitas mães que sua filha tanto apoiava.

Essas mulheres ainda vivem o luto por terem perdido seus filhos, a grande maioria mortos — muitos sumariamente executados — por policiais civis e militares ou soldados do Exército que agiam em operações convencionais, como matadores profissionais ou em grupos de extermínio. Apesar da dor, e da força de quem está do outro lado, escolheram lutar pela dignidade dos seus nomes. “Eu financiei a bala que matou meu filho, e não posso aceitar isso. Seus sonhos foram roubados pelo braço forte do Estado”, argumenta a cuidadora Edna Carla Cavalcante, 47 anos. Hoje é a principal liderança das Mães de Curió, uma das várias redes de familiares que nasceram em plena democracia. Grupos similares são comuns em ditaduras, como as que ocorreram aqui e em vizinhos latino-americanos entre os anos 1960 e 80, décadas em que a repressão se voltava contra opositores do Governo. Unidas na luta e na dor, as mães de hoje exigem esclarecimentos, justiça e reparação do Estado, ao qual acusam de ter levado seus filhos, seja pela ação direta de seus agentes ou pela sua omissão. Ensinam que lutar contra o terror estatal ainda é necessário.

Um terror que invadiu a noite de Fortaleza entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, mais precisamente nos bairros do Curió, Alagadiço Novo, São Miguel e Messejana. Álef, filho de Edna, era um dos 11 jovens sem qualquer ligação com o crime que foram executados por 45 policiais que queriam vingar a morte de um colega. Quando ainda acreditava no poder público, Edna vislumbrava uma carreira no Exército para o rapaz, que adorava andar de skate. Ele tinha só 17 anos quando foi executado naquela noite. “Hoje ele vive através da luta. Mas hoje sou conhecida como uma mãe do Curió. Queria ser apenas a mãe do Álef”. Dez meses depois do massacre, 44 PMs foram indiciados e 34 vão a júri popular. Nove retornaram para a corporação em abril deste ano.

Leia a matéria completa em EL País

+ sobre o tema

Ministério Público vai investigar atos de racismo em escola do DF

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a...

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do...

para lembrar

Mães de Maio organizam ato e lançam livro em São Paulo

Data também marca a inauguração da campanha #BlackBraziliansMatter (Negros...
spot_imgspot_img

Caso Marielle: veja quem já foi preso e os movimentos da investigação

Uma operação conjunta da Procuradoria Geral da República, do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Federal prendeu neste domingo (24) três suspeitos de...

PF prende Domingos Brazão e Chiquinho Brazão por mandar matar Marielle; delegado Rivaldo Barbosa também é preso

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão foram presos neste domingo (24) apontados como mandantes do atentado contra Marielle Franco, em março de 2018, no qual também morreu o motorista Anderson...

Arte para manter viva a memória do colonialismo alemão

Espectadores se concentram em torno das obras de Cheryl McIntosh na Casa Ernst Moritz Arndt, uma sucursal do Museu Municipal de Bonn. Quem quer...
-+=