Lea T.: “Faço questão de falar que sou mulher trans, latina e negra”

Top model, que desfila pela Água de Coco, debateu o machismo, feminismo, transfobia e como lida com os haters nas redes sociais

Por Thalita Peres, Da Revista Marie Claire

Lea T. - mulher negra, de cabelo preto liso, vestindo camiseta preta
A modelo trans Lea T [Foto: Mariana Maltoni/Divulgação | Imagem retirada do site ObservatórioG]
Lea T. é uma das estrelas do desfile da Água de Coco, que acontece no Mercado Municipal de São Paulo, nesta quinta (29). Durante a prova de roupas para a apresentação, a top model bateu um papo exclusivo com a Marie Claire sobre moda, haters, machismo e transfobia.

 

Haters

“Os haters não surgiram na minha vida por causa das redes sociais. Sempre tive que lidar com o ódio, já era uma realidade que vivia. O que eu faço com eles é mostrar dados. Explicar no que estão errado. A comunicação é uma arma que podemos usar contra o preconceito e a opressão. O que tenho medo é façam esses ataques com meninas que não tenham frieza que adquiri com o passar dos anos, que sejam mais frágeis”.

Governo Bolsonaro

“Desde que ele assumiu, dobraram os números de ataques a minha pessoa. Com o discurso de ódio, Bolsonaro está instigando pessoas que também pensam assim. Ele meio que liberou, deu liberdade para falar o que pensam e propagar o ódio. Mas acredito que a culpa não é só dele, é também dele. Foi votado pelo povo que tem o mesmo pensamento”.

Modelo trans x só modelo 

“É estranho porque quando querem especificar colocam só a gente. Por exemplo, eles apontam quando a modelo é negra, trans… Mas quando é loira e cis não falam nada. A sociedade separa os grupos colocando o oprimido desse modo e tratando o resto com normalidade e até uma certa superioridade, o que não é correto. Não faz sentido. Porém cabe a quem é do grupo levantar a bandeira, caso queira. Eu faço questão de falar que sou mulher trans, latina e negra. É importante usar a visibilidade e espaço com orgulho. Se eu não falasse sobre como integrar a mulher trans no mercado da moda, não teríamos aberto as portas”.

Feminismo

“São pautas que realmente tocam cada mulher. É normal que algumas se preocupem com algumas temáticas e outras com outros temas. Todas são importantes. A questão da discussão do pelos, por exemplo, de ter ou não, é o que deixa o movimento vivo. É importante que se fale sobre todas as questões, inclusive da mulher trans, da negra, o feminismo negro… A discussão é importante. Somos contra qualquer tipo de racismo e opressão corporal. Excluir um grupo em estado de vulnerabilidade não é compreensível. A gente cresce até na discussão com pessoas que se dizem feministas, mas que não abraçam outras realidades, embora este tipo de movimento não seja inclusivo, não soma. Ainda assim, a troca é válida. Eu agrego a ela e o contrário, espero que também aconteça. É legal abrir estas conversas, estas pautas. Precisamos de uma prontidão para ouvir, mesmo não concordando”.

Moda

“Estou super ansiosa para desfilar porque fazia tempo que não pisava em uma passarela. Para desfilar, não tenho rituais, tenho certas precauções. Rituais eu tenho com a vida, pois ser mulher com opinião incomoda bastante. Me considero uma bruxona. Acordo, logo pela manhã, e já vou me energizando”.

 

 

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