Trabalhadores à espera de auxílio se sentem insultados por Bolsonaro

Trabalhadores à espera de auxílio se sentem insultados por Bolsonaro.

A declaração do presidente Jair Bolsonaro na última quinta-feira, de que as pessoas à espera do auxílio-emergencial são uma “minoria barulhenta”, não foi bem recebida pelos trabalhadores. A frase foi dita durante sua live semanal transmitida pelas redes sociais. Segundo a Caixa Econômica Federal, há 17 milhões de pedidos do benefício de R$ 600 represados.

O estudante de Psicologia e deficiente visual Lucas Bento Morais, de 20 anos, disse ter se sentido humilhado pela fala do presidente, que segundo ele teve um tom pejorativo.

— Essa minoria tem pobres, negros, e deficientes visuais, como eu. Não é uma minoria de empresários. Me sinto humilhado porque a gente é pobre e é uma população invisibilizada diariamente. Essa fala do Bolsonaro é de extrema irresponsabilidade. Como chefe do Executivo ele precisa ser ponderado, até porque ele não foi eleito só pelos empresários. Entre as pessoas que estão com pedidos em análise provavelmente tem eleitores dele — afirma.

Lucas fez o pedido do auxílio no dia 8 de abril. No dia 23 recebeu uma mensagem informando que deveria se recadastrar porque os dados eram inconclusivos. No mesmo dia ele fez o cadastro, e o pedido está em análise até o momento.

Para o trabalhador autônomo Landerson de Jesus Ferreira, de 27 anos, falta empatia ao presidente da República para com os Trabalhadores à espera de auxílio.

— Eu trabalhava com eventos, e nunca pensei que ficaria sem trabalho. Mas essa pandemia chegou paralisando tudo. Estou sobrevivendo com a ajuda de amigos. Foi uma fala imprudente do presidente, ele não tem um pingo de empatia pelo ser humano. Ninguém está nessa situação porque quer. Eu trabalho desde os 13 anos — criticou Landerson, que mora com a irmã.

Os dois deram entrada no auxílio-emergencial no dia 7 de abril e também receberam a resposta de dados inconclusivos no dia 23. Depois de refazer o cadastro, continuam com o pedido em análise.

Na casa de Maria do Socorro da Silva, de 44 anos, apenas a mãe recebeu o auxílio-emergencial. Mas uma única cota de R$ 600 não é suficiente para sustentar a todos. Ela mora com a irmã, o cunhado e três sobrinhos, além da mãe. Maria contribuía como autônoma para o INSS, mas mesmo assim não conseguiu o benefício, que consta como “em análise”.

— Esse dinheiro faz muita falta para quem é autônomo e não tem renda fixa. Só na cabeça do Bolsonaro é que o auxílio está funcionando, porque eu conheço muita gente que tem direito a receber, mas não recebe. Acho que ele está precisando de uma camisa de força — ironiza.

A jovem Nathália Costa, de 23 anos, também não gostou da fala do presidente. O coronavírus prejudicou o pequeno negócio de sua família — de revenda de óleo e de peças de carro —, que está passando por dificuldades, sem ter acesso ao auxílio emergencial do governo. A jovem conta ter feito seu cadastro no aplicativo da Caixa ainda em 7 de abril.

— Ficou em análise até o dia 24, quando obtive a resposta de que meus dados foram considerados inconclusivos e eu poderia tentar de novo. Me recadastrei e uma semana depois, apareceu o aviso de “dados inconclusivos” outra vez, mas não deixava recadastrar — conta Nathália.

Ao avisar que os dados foram considerados inconclusivos, a Caixa Econômica Federal lista uma série de erros que podem ter acontecido — como marcar que é chefe de família sem informar outros membros, prestar informações incorretas de outros membros da família, informar como integrante da família alguém que já faleceu —, mas Nathália não identificou nenhum plausível.

— Apareceram os dados da minha família e eu confirmei, ninguém faleceu, eu não coloquei que sou chefe de família. A Caixa não diz exatamente qual foi o erro. E pelo que eu vejo nas redes sociais, aconteceu com muita gente a mesma coisa — disse.

O pedido do pai Antonio Costa, de 50 anos, feito depois, ainda está em análise. Enquanto isso, as contas atrasam.

— Eu concordo que é uma minoria que não recebeu o auxílio ainda, mas uma minoria de 17 milhões de pessoas. Senti um desamparo e despreparo do governo nesse processo. No aplicativo, não é possível saber mais nada sobre o erro. No teleatendimento, é uma mensagem gravada que diz o status do seu pedido e também não consegue falar com ninguém que explique mais — criticou ela: — Eu faço faculdade em outra cidade. Então meu aluguel, conta de luz e internet ficaram atrasados, pois demos preferência às contas da casa principal. Mas agora já está atrasando aqui também. Minha irmã está em idade escolar, então tem mensalidade. Estamos priorizando a comida já e com o que sobra, tentamos pagar as contas.

Para Adriana Cruz, de 29 anos, mais uma brasileira que não conseguiu acessar o auxílio emergencial, falta ao presidente olhar para o povo.

— Falta ele olhar realmente para as necessidades do povo brasileiro. Ninguém se sustenta fazendo armas com os dedos ou batendo continência, que são as únicas coisas que ele sabe fazer — criticou.

Mais de 20 dias após se cadastrar no aplicativo da Caixa, ela teve o benefício negado com o aviso de que membros da família já receberam o auxílio emergencial. Mas apenas o marido foi beneficiário, e o sistema deveria permitir até duas pessoas.

— E não consigo fazer uma nova solicitação porque diz que meu CPF já está cadastrado — denunciou ela, desabafando: — Eu estou desempregada desde janeiro e meu marido (Francimar Borges, de 35 anos) canta em barzinho, ou seja, ficou sem renda também com o coronavírus. Temos um filho de 11 meses e tendo que nos manter com R$ 600 do auxílio. Estamos pagando contas atrasadas.

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