Coletivo de Espíritas Antirracistas lança manifesto

O Coletivo de Espíritas Antirracistas vem a público defender a ideia de que é necessário ao movimento espírita assumir maior protagonismo na defesa das pautas antirracistas e não se omitir em promover essa discussão dentro das suas instituições físicas ou virtuais.

Não é possível hoje, em pleno ano de 2020 e num país imerso no racismo estrutural que mata, adoece e discrimina negras e negros, populações indígenas, ciganas etc., que o movimento espírita continue a se esconder dos debates sobre essa importante questão social, refugiando-se apenas na inócua citação de trechos e frases soltas sobre a igualdade entre as pessoas.

Para tanto, propõe a proliferação de debates e discussões sobre o racismo estrutural e suas consequências físicas, psíquicas e sociais sobre as vidas negras, com a necessária presença de negras e negros expondo suas dores e suas dificuldades numa sociedade injusta e racista.

Promover eventos, debates, encontros ou palestras, como se viu recentemente nas redes sociais de instituições espíritas, sobre racismo sem negras e negros é, além de uma ofensa aviltante, a expressão explícita do racismo estrutural que cala justamente aquele que sofre na pele esse mal social.

Num desses eventos sobre racismo, com presença exclusiva de brancos, um dos expositores, ao ser questionado, respondeu afirmando que tal postura se tratava de “racismo reverso”, expondo sua completa incapacidade moral e intelectiva de tratar sobre o problema. E esse certamente não é um caso isolado.

Portanto, não basta promover a discussão sobre o racismo, é preciso muito mais, é preciso que haja representatividade negra nas mesas dos eventos presenciais e virtuais. E não apenas nos eventos que discutam o racismo e suas nefastas consequências. A luta antirracista exige do movimento espírita a presença permanente de negras e negros em todos os espaços de discussão sobre qualquer tema proposto. Sem isso, o movimento espírita será tão-somente mais um promotor dessa chaga social que deveria, ao contrário, combater.

E ainda mais, as instituições espíritas deveriam refletir sobre sua composição de membros tanto nas direções gerais quanto nas coordenações de trabalhos específicos, pois o que se vê amiúde é a reprodução nessas diversas instituições daquilo que ocorre em toda a sociedade: a ausência de negras e negros nos papéis de direção dos muitos trabalhos, apesar de serem a maioria da população brasileira.

O Coletivo de Espíritas Antirracistas reconhece as contradições dos textos das obras de Kardec que, de um lado, falam da igualdade entre todos e, de outro, extravasam noções racistas e discriminatórias sobre negros, asiáticos e povos originários. E entende que esse reconhecimento não é um aviltamento das propostas espíritas, mas uma oportunidade de discussão do problema do racismo estrutural, presente também na sociedade europeia do século XIX.

A prática do racismo é inaceitável, mesmo que fantasiado de boas intenções, e sempre será firmemente combatida por nós através de todos os meios, inclusive os meios legais disponíveis, por se tratar de crime inafiançável e imprescritível, conforme prevê a legislação brasileira.

Por fim, o Coletivo de Espíritas Antirracistas repudia com veemência algumas declarações racistas encontradas em grupos virtuais espíritas e jamais deixará de se pronunciar diante desses atos e expressões imorais e ilegais e não poupará esforços para combater quaisquer ações de violência e crimes de ódio que buscam ofuscar as conquistas sociais do movimento negro no Brasil, em todos os espaços, incluindo espaços da fé brasileira, como o movimento espírita.

Assinam está nota:

COESAR – COletivo de ESpiritas AntirRacista

Antônio Isuperio Pereira
Gustavo Jaime Filizola
Hadson José Farias do Nascimento
Gisela Alves Paulo Faria
Mônica Fonseca Mendes
Marcelo Pereira Menini
Sandro Cândido da Silva
Kelly Cristina Nascimento
Isabel Cristina Santos Guimarães

Assine também a nota: https://chng.it/RYNJZB6P55

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