Chega de passar pano quando há crime

Quando eu era pequena, preconceito e racismo eram assuntos tabu, e o mito da democracia racial brasileira, disseminado em escala global, dominava o imaginário coletivo. Mas a máscara caiu e não há mais como negar a realidade. O Brasil é um país ra-cis-ta!

Isso precisa ser dito e repetido com todas as letras. Tantas vezes quantas forem necessárias. Até que sejam reconhecidos e desconstruídos os mecanismos de opressão que há séculos impedem ou dificultam a mobilidade de pretos e pardos, mantidos na base da pirâmide social, muitas vezes em condição de miserabilidade —o que se agravou com a pandemia.

Falar e escrever sobre racismo, preconceito e desigualdade racial são atos de transgressão, atitudes concretas de ativismo antirracista. É possível que a conquista de espaço e lugar de fala por pessoas negras esteja entre as mudanças mais significativas ocorridas recentemente na sociedade brasileira em termos de enfrentamento do racismo.

Então chega de passar pano, de varrer a sujeira para debaixo do tapete e fazer de conta que está tudo bem, porque não é verdade. Qualquer pessoa minimamente razoável sabe disso. O espantoso é que ainda não esteja claro como a luz do Sol.

E o nó górdio reside no fato de que não há possibilidade de desenvolvimento pleno para uma sociedade racista. Como diz a filósofa Djamila Ribeiro no “Pequeno Manual Antirracista”, “o antirracismo é uma luta de todas e de todos”. Se quisermos transformar o Brasil, precisa ser.

Num país onde falta tudo, menos assunto para tratar, é necessário eleger o que de fato é relevante. Escolher uma causa na qual se acredite e pela qual valha a pena envidar esforços e dedicar-se a ela.

A palavra é uma arma poderosa. E, como tal, deve ser usada com sabedoria. Como afirmou muito sabiamente o líder do movimento dos direitos civis norte-americano Martin Luther King Jr., “nossas vidas começam a acabar no dia em que nos calamos sobre as coisas que importam”.

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