A presença de uma Juíza Negra no STF é uma questão de coerência, reparação histórica e justiça

Enviado por / FontePor Antônia Quintão

Artigo produzido por Redação de Geledés

A Constituição Federal, estabelece como objetivo da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Artigo 3º, Inciso IV).

O Brasil é membro das Nações Unidas desde sua criação em 1945, e é signatário de boa parte dos seus instrumentos, desde os mais gerais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, até os mais específicos, como a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (CERD).

Temos também o Plano de Ação de Durban (documentos resultantes da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e formas de Intolerância Correlatas, de 2001) que convocou os Estados signatários a adotarem medidas especiais para promover a equidade de raça e etnia, destacando que a adoção de ações afirmativas é necessária para contribuir como exercício pleno dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em igualdade de condições (ONU, 2012).

Além disso, a Assembleia Geral da ONU proclamou o período entre 2015 e 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes (resolução 68/237) citando a necessidade de reforçar a cooperação nacional, regional e internacional em relação ao pleno reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos de pessoas afrodescendentes, bem como sua participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade. A década sustenta-se em três pilares: Justiça, Reconhecimento e Desenvolvimento e apesar do seu encerramento no próximo ano são pouquíssimos os avanços, prevalecendo em muitas áreas o retrocesso.

Por fim cabe destacar que o Brasil é signatário da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 10 tem como objetivo a Redução das Desigualdades. A discriminação por raça/cor precisa ser enfrentada urgentemente, pois está arraigada no processo de formação da sociedade brasileira. O Brasil jamais será uma sociedade socialmente sustentável, enquanto 56% da sua população constituída por afrodescendentes, permanecerem impedidos de acessar os seus direitos civis.

Esperamos que os compromissos, tratados e acordos assumidos pelo Estado Brasileiro perante a população brasileira e a comunidade internacional sejam cumpridos, que a justiça prevaleça e que tenhamos finalmente uma Juíza Negra no Supremo Tribunal Federal.

+ sobre o tema

Formação de agentes populares de saúde: uma ação eficaz contra a pandemia

Desde os primeiros casos registrados de coronavírus no país,...

África ou França ???

Quem disputará a final da copa da Rússia neste...

Luto que marcou a vida de Maria é transformado em luta

Com uma trajetória marcada por situação análoga à escravidão...

Negros no mundo corporativo

A Gerente de Negócios Camila Ramos fala sobre sua...

para lembrar

Pacto Nacional do Poder Judiciário para a Equidade Racial

No último dia 25 de novembro, Geledés-Instituto da Mulher...

O desastre não é natural, é político

O cenário é devastador. Relatos absurdamente trágicos e tristes...

“Aprendi que em cada momento histórico, devemos nos posicionar com muita sabedoria e análise do contexto”

A professora e pesquisadora Antonia Aparecida Quintão assumiu há um mês a presidência do Geledés – Instituto da Mulher Negra- e destaca para a...

“Há um racismo velado, naturalizado, e por muitas vezes explícito na escola”, diz Elenir Fagundes Freitas

Assim como milhares de crianças negras, Elenir Fagundes Freitas, enfrentou situações de racismo no ambiente escolar. Logo na primeira série, na hora da fila,...

O desastre não é natural, é político

O cenário é devastador. Relatos absurdamente trágicos e tristes de pessoas que perderam tudo. Não sobrou nada, não sobrou coisas, vida, documentos e fotos....
-+=