Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Enviado por / FontePor Jamil Chade, do UOL

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação de desnutrição aguda, a ONU alerta que o mundo dificilmente atingirá a meta estabelecida no início do século para erradicar a fome extrema até 2030.

Num informe publicado hoje, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) apresenta a situação de 59 países que vivem uma situação crítica: 24 milhões de pessoas entraram nessa categoria catastrófica em comparação a 2022.

“Esse quinto ano consecutivo de aumento do número de pessoas que enfrentam altos níveis de insegurança alimentar aguda confirma a enormidade do desafio de atingir a meta de acabar com a fome até 2030″, afirmou o documento.

De um total de 280 milhões de pessoas vítimas da fome, 36 milhões no mundo estão à beira da morte por conta da falta de comida.

Ranking dos países com maior número absoluto de famintos:

  1. República Democrática do Congo: 25,8 milhões
  2. Nigéria: 24,9 milhões
  3. Sudão: 20,3 milhões
  4. Afeganistão: 19,9 milhões
  5. Etiópia: 19,7 milhões

Ranking de país/território das maiores proporções de famintos — a classificação de insegurança alimentar se refere à incerteza sobre como farão para obter comida:

  1. Gaza: 100%
  2. Sudão do Sul: 63%
  3. Iêmen: 56%
  4. Síria: 55%
  5. Afeganistão: 46%

Este relatório é uma chamada de atenção para as falhas humanas.

António Guterres, secretário-geral das ONU

“Em um mundo de abundância, crianças estão morrendo de fome. Guerra, caos climático e uma crise de custo de vida significam que quase 300 milhões de pessoas enfrentarão uma crise alimentar aguda em 2023”, disse. Segundo ele, o número de pessoas à beira da fome absoluta e que levaria à morte em poucos dias subiu para mais de 700 mil — quase o dobro do número de 2022.

Os conflitos que eclodiram nos últimos 12 meses agravaram a terrível situação global. “A Faixa de Gaza tem o maior número de pessoas enfrentando uma fome catastrófica já registrada pelo Relatório Global sobre Crises Alimentares, mesmo com a fila de caminhões de ajuda bloqueados na fronteira”, disse.

Outro alerta é sobre o conflito no Sudão que, segundo Guterres, “criou a maior crise de deslocamento interno do mundo, com impactos atrozes com impactos atrozes sobre a fome e a nutrição, principalmente para mulheres e crianças”. “Essa crise exige uma resposta urgente”, disse.

Para o Fundo Mundial de Alimentação da ONU, a desnutrição em Gaza em crianças de menos de 2 anos atinge 30%. No norte da região, 70% da população está em um nível catastrófico de fome — que pode levar à morte. A entidade estima que, se nada for feito, o grau máximo de fome será atingido em seis semanas.

Pela FAO, existem cinco níveis de classificação da insegurança alimentar. A população do Norte de Gaza vive a segunda pior situação, apenas superada pela morte pela fome.

Na América Latina, Haiti é maior crise

Na América Latina, a fome extrema atinge as populações do Haiti, da Bolívia, da Colômbia, da República Dominicana, de El Salvador, da Guatemala, de Honduras e da Nicarágua.

A Venezuela não foi incluída no informe — questionadas, nenhuma das agências da ONU tinha uma resposta sobre a ausência do país no documento.

Na América Latina e no Caribe, o Haiti está enfrentando uma crise alimentar pior em 2024 do que a projetada em agosto de 2023, devido ao aumento da violência das gangues.

Trecho do relatório da FAO

Na região, 19,7 milhões de pessoas enfrentaram altos níveis de insegurança alimentar aguda em 2023 em nove países. Na América Latina, existem 12 milhões de pessoas deslocadas à força em cinco países até 2023 — sendo 7,3 milhões de deslocados internos e 4,8 milhões de migrantes e refugiados.

Metas distantes

O que preocupa as agências da ONU é que, se 2023 mostrou um cenário dramático, o risco é que 2024 tenha um resultado “catastrófico”, principalmente no Sudão e em Gaza.

A situação abala os planos da entidade de erradicar a desnutrição até 2030, fenômeno que atinge cerca de 800 milhões de pessoas no mundo.

Estamos longe de atingir meta de acabar com fome até 2030. Se continuarmos nessa mesma tendência, vai ser muito difícil.

Dominique Burgeon, diretor da FAO em Genebra

Segundo ele, mantida a situação, o mundo ainda terá 600 milhões de pessoas em insegurança alimentar até o final da década.

Quanto custaria para atacar fome?

Se a crise ganha novas proporções, os valores destinados para lidar com a fome representam apenas uma fração do que o mundo destina para armas. Nesta semana, um levantamento revelou que, em 2023, governos destinaram US$ 2,4 trilhões para suas forças armadas.

O Banco Mundial, no mesmo período, alocou US$ 45 bilhões para combater a fome. Na ONU, toda a ajuda humanitária para as piores crises do planeta foi calculada em US$ 54 bilhões.

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