Campanha contra racismo no SUS dá voz a quem sofre preconceito, diz ONG

Aline Leal   Fábio Massalli

Ativistas do movimento negro não viram sentido no repúdio que o Conselho Federal de Medicina (CFM) manifestou à campanha contra o racismo no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a coordenadora da organização não governamental (ONG) Criola, Lúcia Xavier, várias entidades já reconheceram que existe racismo no SUS e a campanha é uma forma de dar voz à população que enfrenta o problema.

“Quando a gente fala em discriminação, não quer dizer que um negro entra no posto e é xingado. O que a gente acentua é a discriminação que tem por base o modo como a instituição promove os serviços e olha para a pessoa, não escuta as queixas, não a trata com cidadania, sabe que a população negra tem alguns agravos na saúde por causa da raça, e isso não é levado em consideração”, explicou Lúcia. Para ela, a manifestação do CFM é descabida, pois a campanha vem enfrentar um problema reconhecido pelo Ministério da Saúde e outras entidades.

A coordenadora ressalta que o problema de racismo no SUS não tem origem especificamente nos médicos, é de todo o sistema. Os negros sofrem muito por causa de uma cultura institucional que trata essas pessoas de forma discriminatória, disse a ativista. Segundo ela, a campanha está entre uma série de ações do governo que visam ao combate do racismo institucional.

O coordenador de Comunicação da Associação Paraibana de Portadores de Anemias Hereditárias e membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial da Paraíba, Dalmo Oliveira, a campanha é muito importante para o combate ao racismo. “O racismo institucional leva a um despreparo dos profissionais para lidar com as doenças que tem maior incidência na população negra”, defende.

Oliveira também diz  que o movimento negro não acusa especificamente os médicos e enfermeiros de racismo. Na avaliação dele, o sistema funciona de forma que estes profissionais muitas vezes não escutem ou acreditem nos relatos dos pacientes negros.

O ativista conta que há diversos relatos de pacientes negros que tiveram seu estado de saúde negligenciado porque os profissionais de saúde pensam que a população negra é mais resistente à dor do que a não negra. “Eles acabam negando o analgésico, achando que a gente está exagerando na dor. Isso também acontece em situações de parto, como se as mulheres negras estivessem preparadas para aguentar mais dor que as não negras”, ressaltou o coordenador.

Na última quinta-feira (25), o Ministério da Saúde lançou a primeira campanha publicitária que busca envolver usuários do SUS e profissionais de saúde no enfrentamento ao racismo institucional. Com o slogan “Racismo faz mal à saúde. Denuncie!”, a iniciativa visa a conscientizar a população de que a discriminação racial também se manifesta na saúde.

Dados do Ministério da Saúde mostram que as taxas de mortalidade materna infantil entre a população negra são superiores às registradas entre mulheres e crianças brancas. Os números mostram que 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre mulheres brancas.

A campanha prevê ainda que, por meio do Disque Saúde 136, as pessoas possam denunciar qualquer situação de racismo que tenham presenciado, além de se informar sobre doenças mais comuns entre a população negra e que exigem maior acompanhamento, como a doença falciforme e o diabetes tipo 2.

O CFM repudiou a campanha alegando que o Ministério da Saúde está driblando o foco do problema, que, para eles, é a falta de estrutura do SUS, que atinge pacientes de todas as raças. O conselho ainda disse que, pelo Código de Ética Médica, estes profissionais não podem diferenciar pacientes por razão de herança genética.

 

Fonte: Agência Brasil

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