Mulheres africanas contam como foram vítimas de ritual que queimava seus seios com chapas quentes

O hábito cruel tinha o intuito de diminuir o tamanho dos seios das mulheres para que eles ficassem menos atraentes. O fotógrafo Gildas Paré foi a Camarões para contar essa história em imagens

Do Revista Glamour

O fotógrafo francês Gildas Paré costumava trabalhar com o registro de pratos e comidas, até que decidiu desenvolver um projeto mais social. Ele havia ouvido falar de um costume em Camarões, país da região ocidental da África, pouco divulgado, que consistia no uso de objetos quentes para diminuir o seio das mulheres, e quis ir a fundo nessa história.

Paré juntou-se ao jornalista Kirk Bayama, que estava produzindo um documentário sobre o assunto, e partiu para a região. O plano era fotografar as vítimas do ritual com os seios à mostra, no intuito de conscientizar as pessoas. De início, ele sentiu dificuldades em convencer as mulheres a posar nuas para a sua lente. “Me disseram: ‘você não pode fazer fotos do rosto e do peito, ao mesmo tempo. Elas nunca concordarão’. E eu repliquei que, dessa forma, [o projeto] não teria nenhum uso. Tivemos longas discussões e eles finalmente concordaram comigo”, contou Gildas à Vice.
Segundo o fotógrafo, a prática tem início no começo da adolescência e algumas garotas com oito ou nove anos já são submetidas a ela. O argumento é que, queimando o corpo das mulheres com colheres, espátulas ou pedras, os seios não se desenvolvem tanto e elas tornam-se menos atraentes aos olhos masculinos.

Veja alguns depoimentos que fazem parte do projeto ‘Plastic Dream‘:

Doriane, 19 anos: "Era um pesadelo" (Foto: Gildas Paré )
Doriane, 19 anos: “Era um pesadelo” (Foto: Gildas Paré )

Doriane, 19 anos
“Tinha oito anos quando minha mãe falou: ‘tire sua camiseta. Você já tem seios? Quando uma menina da sua idade tem peito, homens olham para ela’. Não tinha entendido o que ela estava fazendo. Todos os dias, até três vezes por dia, ela achatava meu peito com uma espátula quente. Ela dizia: ‘é para o seu próprio bem’. Era um pesadelo. Percebi que quanto mais ela me massageava, mais meu seio crescia. Foi então que ela usou uma pedra. Senti como se meu corpo estivesse pegando fogo.”

Cathy, 27 anos: "É difícil ter que lembrar de tudo" (Foto: Gildas Paré )
Cathy, 27 anos: “É difícil ter que lembrar de tudo” (Foto: Gildas Paré )

Cathy, 27 anos
“Pilões me lembram das dores da minha infância. O mesmo pedaço de pedra usado para moer temperos era utilizado para esmagar a beleza das mulheres e a pele de adolescentes. Meus seios começaram a crescer quando eu tinha 10 anos e minha família pensou que diminuí-los era a solução. Quando completei 16 e fiquei grávida, eles odiaram. Um fluído preto saía toda vez que eu amamentava. É difícil ter que lembrar de tudo. Decidi esquecer e lutar contra a violência que as mulheres sofrem.”

Carole B., 28 anos: "Até eu me senti envergonhada" (Foto: Gildas Paré )
Carole B., 28 anos: “Até eu me senti envergonhada” (Foto: Gildas Paré )

Carole B., 28 anos
“Quando meus seios cresceram, as pessoas da casa começaram a comentar. Vizinhos, os amigos da minha mãe, os mais velhos. Falaram muito! Até eu me senti envergonhada. Finalmente, minha mãe decidiu passar ferro no meu peito. ‘Se não fizermos isso, vai atrair homens. E sabemos que homem significa gravidez’, ela disse.”

 

Cindy, 14 anos (primeira foto)
“Toda manhã, antes de eu ir para a escola, minha mãe levantava meu top para ter certeza de que eu não tinha tirado a bandagem. Faz dois anos e ela ainda checa isso diariamente. É humilhante. Gostaria que ela parasse. Quando eu crescer, quero ser advogada ou pianista. Espero que usar essa bandagem ajude-me a continuar minha educação.”

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