Estereótipos ‘sem vergonha’ na TV – Por: James Flannery

Me deparei na televisão com o programa da Rede TV Teste de Fidelidade e fiquei tentando entender que aspecto da sociedade brasileira ele representa.

Na Grã-Bretanha, há programas tão ruins quanto esse, e não vou detalhar as críticas que programas do tipo, em qualquer parte do mundo, despertam.

Mas o que me chocou de certa maneira foi como os princípios que regem o programa são calcados em estereótipos de gênero em “estado bruto”.

O corpo feminino é transformado em objeto de forma desavergonhada, e os homens, como animais, são frequentemente retratados como incapazes de conter seus impulsos sexuais.

 

Um detalhe no enredo que acompanhei me chamou a atenção. Foi a sugestão implícita de que quando uma mulher diz “não” a avanços de um homem, esse “não” pode ser interpretado como um “sim tímido”, principalmente se roupas justas e um tom “incerto” fizerem parte da equação.

Entra-se aí em um terreno perigoso em que interpretações, como sempre, podem estar erradas.

O desafio da mulher no Brasil, como na maior parte do mundo, ainda é grande – o Brasil ocupa o 7º lugar num ranking mundial de homicídios femininos, que inclui 84 nações. De acordo com os últimos dados, 46% das pessoas atribuem a prevalência de violência doméstica a uma “questão de cultura”.

Não seria questionável que estes estereótipos sejam explorados desta maneira na TV?

Teste de Fidelidade, obviamente, não é a causa da desigualdade de gênero, mas, sim, um sintoma.

Mas o sucesso de programas como este parece ser um termômetro do que ainda é considerado aceitável na sociedade.

A BBC Brasil entrou em contato com a RedeTV para ouvir o posicionamento da empresa sobre o programa, mas a emissora disse que não iria se pronunciar.

Fonte: BBC

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