Fonte: Folha de São Paulo –
SÃO PAULO – É triste verificar que pedaços da exortação à África feita no sábado pelo presidente Barack Obama se aplicam ao Brasil, sem necessidade de reescrevê-los. É a própria essência do discurso que vale para o Brasil (“a África não necessita de homens fortes, necessita de instituições fortes”).
Vale também a sua definição de que, “no século 21, instituições transparentes, capazes e confiáveis são a chave para o sucesso -parlamentos fortes, forças policiais honestas, juízes independentes, uma imprensa independente, um setor privado vibrante, uma sociedade civil”.
“São essas coisas -disse ainda o presidente- que dão vida à democracia, porque é o que importa na vida cotidiana das pessoas.”
Temos instituições transparentes, capazes e confiáveis? Só o mais ufanista dos ufanistas dirá que sim.
Temos um parlamento forte?
Não parece exagero dizer que os ativos do Brasil neste princípio do século estão mais, muito mais, na sociedade civil do que nas instituições públicas.
É claro que há, sim, juízes independentes, mas alguém aí é capaz de jurar que o Judiciário é transparente, capaz e confiável?
Do que se trata é de instituições fortes, não de personalidades de exceção em um panorama que, no geral, é bastante medíocre.
Construir instituições fortes é a tarefa que o Brasil precisa começar a executar com a maior urgência.
Passou a fase de redemocratização, vencida aliás com certo garbo. Passou a fase de estabilização da economia, igualmente superada com competência, depois de décadas em que a inflação parecia ser uma característica tão permanente do país como o sol ou a lua.
Não é missão para um só partido, um só poder, um só pensamento.
Tampouco é tarefa simples. Mas é começar já para poder deixar de ser mero mercado emergente e se tornar uma nação decente.