“A escravatura é legítima”, dizia Fernando Pessoa. E cria polémica na CPLP

A Comunidade os Países de Língua Portuguesa pondera o nome de Fernando Pessoa para titular o Erasmus entre os países da organização.

Escritos de Fernando Pessoa parecem apoiar a escravatura aos 28 anos, mas especialistas consideram isso um “disparate” e “politização”.

A polémica sobre racismo e escravatura por parte de Portugal tem um novo caso: o poeta Fernando Pessoa. O seu nome foi escolhido para um programa semelhante ao Erasmus pela Comunidade os Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a reação não se fez esperar: Protestos por parte de Angola.

O jornal Expresso das Ilhas, de Cabo Verde, fazia ontem notícia com esta nova polémica e questionava o facto de nenhuma personalidade do país ter criticado a escolha o poeta para o programa de intercâmbio académico dentro dos países da CPLP, organização sob a presidência rotativa de Cabo Verde.

Em causa estão afirmações racistas e favoráveis à escravatura por Fernando Pessoa feitas em escritos. Segundo o mesmo jornal cabo-verdiano, Pessoa terá dito aos 28 anos: “A escravatura é lógica e legítima; um zulu (negro da África do Sul) ou um landim (moçambicano) não representa coisa alguma de útil neste mundo.Civilizá-lo, quer religiosamente, quer de outra forma qualquer, é querer-lhe dar aquilo que ele não pode ter. O legítimo é obrigá-lo, visto que não é gente, a servir aos fins da civilização. Escravizá-lo é que é lógico. O degenerado conceito igualitário, com que o cristianismo envenenou os nossos conceitos sociais, prejudicou, porém, esta lógica atitude”.

Pessoa, alegadamente, não se fica por aqui e, refere a notícia, que um ano depois, em 1917, irá escrever: “A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem que cumprir-se, sem revolta possível. Uns nascem escravos, e a outros a escravidão é dada.”

Entre os críticos angolanos está Luzia Moniz, presidente da Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana, que se socorre a biografia do poeta, Fernando Pessoa: Uma (quase) autobiografia, de autoria de José Carlos Cavalcanti Filho, para acrescentar mais afirmações: “Ninguém ainda provou que a abolição da escravatura fosse um bem social” e também “Quem nos diz que a escravatura não seja uma lei natural da vida das sociedades sãs?”

Segundo o jornal Expresso das Ilhas, as afirmações de Luzia Moniz terão sido feitas em Lisboa na semana passada, na Assembleia da República, na cerimónia de abertura do ano da CPLP para a Juventude, na presença de “deputados, governantes dos Estados da CPLP, jovens, ativistas, intelectuais e académicos afrodescendentes, brasileiros, portugueses e africanos”. Entre o que a responsável disse na cerimónia está também a acusação de branqueamento do poeta: “Não sei se Pessoa é ou não bom poeta. Isso pouco interessa para o caso. A minha inquietação é o uso da CPLP para branquear o pensamento de um acérrimo defensor do mais hediondo crime contra a Humanidade: a escravatura”.

De acordo com a agência de notícias angolana, a Angop, a intenção de Portugal ao indicar o nome de Pessoa também mais não é do que uma tentativa de “branquear” a imagem do poeta.

A mesma agência considera que existem alternativas a Fernando Pessoa: “Eça de Queiroz, que era abertamente contra a escravatura, Jorge Amado, Corsino Fortes, Alda Lara, Alda Espírito Santo, José Saramago e Mário Pinto de Andrade.”

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