A heteronormatividade pira! – Por Cidinha da Silva

O beijo de Fernanda Montenegro na atriz Camila Amado detonou uma avalanche de coisas boas. A octogenária e a colega de quase 80 anos de vida e coragem instaram o destemor adormecido em muita gente da classe artística brasileira.

O galã Bruno Gagliasso beijou o grande ator Matheus Nachtergale. Adriana Calcanhoto oficializou a união com a companheira Susana de Moraes. O ator Alexandre Nero participa publicamente da campanha nacional em apoio ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Willian Bonner, sim, o homem forte do Jornal Nacional, deu declarações pró-liberdade de orientação sexual.

Fora daqui, Nicolás Maduro fez piadinha homofóbica na Venezuela e foi repreendido em cima do lance. A querida Beatriz Nascimento me escreve exultante, direto de Montevideu, dando conta de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser aprovado, em definitivo, pelos deputados do Uruguai, em breve. Magic Johnson faz declaração de amor ao filho, Earvin Johnson III, após o garoto de 20 anos assumir-se gay e decidir andar de mãos dadas com o namorado pelas ruas de Los Angeles.

Os fiscais do amor livre e das liberdades individuais, obviamente reagem. Aproveitei as declarações homofóbicas de várias pessoas sobre o beijo de Fernanda e Camila Amado, para despachá-las pelo cano de esgoto do Facebook. Elas têm o direito de expressarem-se onde quiserem e eu, de deletá-las quando o fazem no meu domínio.

O anúncio público do casamento de Daniela Mercury e Malu Verçosa e, mais do que isso, a declaração de amor daquela a esta, incendiou o mundinho heteronormativo e seus puxadinhos travestidos de lucidez e ponderação. O pessoal do puxadinho é o mais perigoso, bem mais do quem diz “até gostava dessa Fernanda, mas depois dessa…” (o beijo em Camila Amado).

Li coisas supostamente críticas à declaração de Daniela (Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração para cantar), que no mínimo, são dejeto de uma compreensão deturpada da subjetividade homoafetiva: “Agora, depois de velha (Daniela), casada com homem não sei quantos anos, mãe de filho virar lésbica eu acho é esquisito e ponto final”.

Não satisfeito, o texto apressado conclui: “Eu fico vendo o povo e acho que a coisa tá meio exagerada. Não sermos homofóbicos é uma obrigação de todo ser humano consciente e que luta contra qualquer tipo de discriminação, agora, fazer disso uma bandeira histérica, fica um pouco exagerado demais”.

Para os sectários heteronormativos é assim (também para os que não entendem nada de saúde mental) o regozijo dos homoafetivos e seus aliados com uma conquista do campo é histeria. Os machos, principalmente, não agüentam ver duas mulheres bonitas, saudáveis, afirmadas, exalando amor uma pela outra, sem deixar qualquer chance de realização às fantasias sexuais rasteiras do macho com elas. Deve ser algo brochante para esse naipe de idiotas e eles respondem agredindo as mulheres.

A vivência da sexualidade das pessoas é aspecto de sua subjetividade e como tal deve ser tratado (e respeitado). Às antas heteronormativas, a homoafetividade avisa que existe algo consagrado no mundo chamado bissexualidade, parece ser o caso de Daniela Mercury. Outro aviso, lésbicas e bissexuais têm filhos, gerados no próprio corpo ou não. E mais uma coisa, os meios para engravidar dizem respeito exclusivamente a elas (direito humano, que as feministas ainda lutam para conquistar). Revelar a origem da gravidez, seja por modo tradicional ou métodos externos de fertilização, diz respeito ex-clu-si-va-men-te ao desejo da mulher que engravida.

Antes de concluir a crônica recebo imagem do revolucionário Ney Matogrosso beijando a irreverente Martinália, abraçando-a por trás e segurando seus seios nus (quase sexual, a linda posição). Ai, ai! Imagino a reação dos recalcados, incapazes de se permitir a liberdade de existir e amar dos homoafetivos e de usar Ky para relaxar.

 

 

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