A Intolerância Religiosa que mata na Bahia: “queima satanás, liberta senhor, destrói a feitiçaria”

Aos 90 anos de idade, morreu Mãe Dede de Iansã, do Terreiro de Oyá.

por Marcelo Ferrão no Revista Livre

Mãe Dede não faleceu de morte natural. Foi assassinada, de forma premeditada e cruel.

A ialorixá mais idosa de Camaçari, foi mais uma vítima da crescente intolerância religiosa que contamina o país.

Tudo começou há cerca de um ano, quando a bendita “Casa da Oração” resolveu instalar-se nas proximidades do terreiro de candomblé.

Imediatamente após a inauguração, estimulados por pastor Lucas, fiéis da seita evangélica iniciaram rituais de hostilização à casa religiosa e também à mãe Dede.

Comandados pelo fanatismo religioso, desordem pública, ofensas e perseguição a devotos da religião de matriz africana, passaram a ser uma constante na Rua da Mangueira na localidade de Areias.

A violência gratuita e incessante fez com que o caso fosse parar na polícia. Com o registro de ocorrência na 26ª Delegacia de Vila de Abrantes, no último dia 15 de maio, foi determinada audiência para apurar a denúncia de ameaça, injúria e intolerância religiosa.

Veja a origem do caso de intolerância contra Terreiro de Oyá em Abrantes

No entanto, infelizmente, Mãe Dede não conseguiu acompanhar a condenação dos culpados.

Durante a noite do último sábado, 30, e a madrugada de domingo, 31, fanáticos da seita, em transe coletiva, promoveram uma vigília de “Libertação” com o intuito de reforçar as injúrias à sacerdotisa.

Horas a fio, aos berros de “queima essa satanás, liberta senhor, destrói a feitiçaria” integrantes da seita – alucinados – rogaram pragas, ameaças e maldições para a dirigente do centro religioso de cultura africana.

Como resultado, com muito medo e nervosa devido à gravidade dos impropérios – após noite sem dormir – a nonagenária sacerdotisa sofreu infarto do miocárdio e faleceu durante as agressões psicológicas.

Agora cabe a polícia e à justiça buscarem apuração e condenação deste crime dolosamente premeditado de intolerância e injúria religiosa.

Nota da Mamapress: Casos como estes de campanhas de incitamento ao ódio religioso, apedrejamentos, destruição de terreiros e agora ataques e cercos diretos às Yalorixás, acompanhados de programas televisivos que todos os dias vão ao ar, tornam pastores fundamentalistas verdadeiras máquinas de matar à distância, quando seus séquitos de fiéis, saem para as ruas para lincharem, ainda com palavras, as pessoas que professam as Religiões de Matrizes Africanas em todo o Brasil.

Faz-se necessário uma intervenção direta do Ministério da Justiça, para que sejam coibidas as manifestações de ódio, intolerância religiosa e racismo nos meios de comunicação- TVs, rádios e redes sociais e principalmente nos templos comandados por religiosos fundamentalistas.

Faz-se também urgente que toda a sociedade brasileira desperte para o fundamentalismo religioso, que está se transformando em um poderoso instrumento de manipulação do povo brasileiro e, de ação política para uma bancada oportunista de eleitos no congresso, que em busca de tomarem o poder no país, despertam os sentimentos mais cruéis de intolerância religiosa e racismo no seio da sociedade brasileira.

Ainda há tempo para cortar as cabeças dessa ” Hidra de Sete-Cabeças do mal”. Muitos países do mundo sabem para onde esta ” Onda de Intolerância Religiosa” pode nos levar. Pode nos levar a todos para a Guerra. Marcos Romão Editor da Mamapress e coordenador do Sos Racismo Brasil

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