A mulher que acabou com a festa de Donald Trump

A republicana Carly Fiorina emerge de um debate contra o multimilionário como uma possível candidata de seu partido à Casa Branca

Por Jorge  Marirrodriga Do Brasil

Carly Fiorina emerge como figura republicana após confrontar Trump

Ocorre com mais frequência do que parece. No final, quem acaba com a festa do valentão da classe é uma mulher. Enquanto seus companheiros masculinos tentam passar despercebidos e olham assobiando para o outro lado, ela joga na cara dele o que todos pensam. E o obriga a recuar. Foi exatamente isso o que aconteceu com o autoproclamado macho alfa do cenário político norte-americano, Donald Trump, que desde o anúncio de sua candidatura à indicação republicana à Casa Branca – na verdade, desde muito antes – distribuiu insultos, desprezos e barbaridades a torto e a direito. É verdade que é preciso reconhecer que o multimilionário, em algo, é igualitário – insulta com o mesmo descaramento a qualquer um que tenha pela frente, seja ele o presidente dos EUA, uma apresentadora da TV conservadora Fox ou um imigrante mexicano. Para ele, o que conta é se a pessoa é negra, mulher ou não fala inglês. Se por acaso reunir as três características, melhor ainda.

Com o moral nas nuvens por causa de algumas pesquisas que apoiavam sua tese populista e uma influência cada vez maior no discurso de seus concorrentes dentro do partido, Trump se apresentou esta semana em um debate televisionado com outros candidatos à indicação. Mas seus golpes dialéticos se depararam com uma mulher a quem – surpresa – tinha insultado e menosprezado. “Vejam essa cara, como se pode votar nisso?”, tinha dito sobre antes do debate. Longe de entrar na luta na lama que Trump adora, Carly Fiorina reagiu com classe, calma e educação. Pôs o milionário no devido lugar e emergiu do debate – ao qual chegara praticamente como candidata de recheio – como uma das figuras promissoras na corrida republicana à Casa Branca.

Fiorina marcou diferenças notáveis. Sua atitude foi como dizer a Trump: “Diga-me do que você se gaba e eu direi o que lhe falta”. E tem sua lógica. Diferentemente de Trump, que exige que todos trabalhem duro, mas herdou um próspero negócio familiar, Carly Fiorina sabe o que é começar de secretária e subir até se transformar em diretora executiva de várias grandes multinacionais. Além disso, nem ela nem seus antepassados mudaram o sobrenome, como fizeram os Drumpf, transformados em Trump. E mais, a candidata renunciou a seu sobrenome inglês de ascendência nobre para adotar – segundo o costume norte-americano – o sobrenome italiano de seu marido. Algo inconcebível para seu rival, cujas origens norte-americanas têm a mesma autenticidade de seu topete.

Não é, definitivamente, a semana de Trump, que foi substituído em seu reality show… por um imigrante. Trata-se de Arnold Schwarzenegger, um austríaco de quem dizer que fala inglês com um forte sotaque alemão é um eufemismo, que depois de fazer sucesso em seu trabalho teve a desfaçatez de se casar com uma mulher pertencente a uma das famílias americanas com mais pedigree – os Kennedy – e ainda por cima foi eleito democraticamente governador da Califórnia. A encarnação do sonho americano para qualquer imigrante. Sua frase mais famosa? Uma mescla de inglês e espanhol aplicável a Trump: “Hasta la vista, baby”.

+ sobre o tema

para lembrar

APAN participa de audiência pública para debater futuro das políticas afirmativas no audiovisual

No próximo dia 3 de setembro, quarta-feira, a Associação...

Condenação da Volks por trabalho escravo é histórica, diz procurador

A condenação da multinacional do setor automobilístico Volkswagen por...

Desigualdade de renda e taxa de desocupação caem no Brasil, diz relatório

A desigualdade de renda sofreu uma queda no Brasil...

Relator da ONU critica Brasil por devolver doméstica escravizada ao patrão

O relator especial da ONU para formas contemporâneas de...

ECA Digital

O que parecia impossível aconteceu. Nesta semana, a polarização visceral cedeu e os deputados federais deram uma pausa na defesa de seus próprios interesses...

ActionAid pauta racismo ambiental, educação e gênero na Rio Climate Action Week

A ActionAid, organização global que atua para a promoção da justiça social, racial, de gênero e climática em mais de 70 países, participará da Rio...

De cada 10 residências no país, 3 não têm esgoto ligado à rede geral

Dos cerca de 77 milhões de domicílios que o Brasil tinha em 2024, 29,5% não tinham ligação com rede geral de esgoto. Isso representa...