A resistência da cultura negra no Ceará

Sob o estigma do preconceito e desvalorização regional, grupos dos maracatus lutam pela resistência de sua cultura negra

 

 

Ontem, 25, foi comemorado oficialmente o Dia do Maracatu em Fortaleza. Em comemoração, maracatus e afoxés da cidade promoveram o tradicional cortejo no Centro da cidade, exibindo suas cores e seu brilho. A comemoração foi realizada nessa data devido à abolição da escravatura no Ceará, proclamada nesse mesmo dia, exaltando a cultura negra.

A celebração contou com a participação dos maracatus Axé de Oxossi, Az de Ouro, Filhos de Iemanjá, Kizomba, Leão de Ouro, Nação Baobab, Nação Fortaleza, Nação Iracema, Nação Palmares, Nação Pici, Rei do Congo, Rei de Paus, Rei Zumbi, Solar, Vozes da África e os afoxés Filhos de Oyá, Acabaca, Obá Sa Rewa e Oxum Odolá.

Para William Augusto Pereira, representante do Maracatu Nação Iracema, a data é uma oportunidade para lembrar que existe cultura negra no Ceará e que ela é parcela importante para a cultura do estado. “Pra gente, é uma reflexão para provar que não é verdade quando dizem que não tem negro, que não tem cultura negra no Ceará. Até alguns historiadores tentam persistir que aqui a escravidão foi branda, que não teve quilombo, e nós tentamos desmistificar isso. Na época da escravidão, a população negra era de 15%, isso é bastante coisa.”, ele conta.

Segundo William, nos últimos 20 anos o público que procura os maracatus tem aumentado e é bastante mesclado, contando com presença tanto de jovens quanto de pessoas mais velhas. Para ele, no entanto, ainda é forte o preconceito que os grupos dos maracatus (e grupos relacionados a religiões de matriz africana no geral) sofrem.

Já Francisco Carlos Lima, do maracatu Nação Pici, comenta a falta de visibilidade que os grupos têm, o que acaba criando uma imagem errada na cabeça das pessoas. Segundo ele, “ainda confundem muito o maracatu com religião. A gente aqui não tem essa característica de religião, vejo muito confundirem com macumba, com outras manifestações culturais de raiz africana, e isso não é verdade”.

O dia 25 de março só recentemente passou a ser feriado, através de uma emenda aprovada pela Assembleia Legislativa, em 2011. No ano seguinte, o dia caiu em um domingo, fazendo de 2014 o segundo ano em que o feriado cai em dia útil. Francisco Carlos considera isso um passo importante para os maracatus e uma oportunidade boa para levar essa manifestação cultural ao Centro e pô-la em evidência.

Ainda em relação à data, o maracatu Nação Iracema realizou ainda, durante a noite, uma roda de conversa sobre tráfico de pessoas e racismo, junto com a Pastoral Afro da Paróquia Santo Antônio de Pádua e a Arquidiocese de Fortaleza.

Fonte: o Estado

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