“A verdadeira esquerda é o socialismo”, diz pré-candidato a presidente do PSOL

Plínio de Arruda Sampaio ironiza Serra e Dilma e traz reforma agrária como proposta

Aos 79 anos, o promotor público aposentado Plínio de Arruda Sampaio concorre pela primeira vez à Presidência da República. Ex-deputado federal, ele já se candidatou ao governo de São Paulo em duas ocasiões, 1990 e 2006.

Em uma eleição na qual os principais candidatos brigam entre si para dizer quem é o mais experiente e preparado, Plínio acha que suas cinco décadas de vida pública jogam a favor.

– Acho que a vantagem disso é que você já viveu situações que outros candidatos não viveram, situações extremamente importantes, e isso ajuda. 

Plínio é um dos fundadores do PT, legenda com a qual rompeu em 2005. Hoje, ele está no PSOL e vê o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu ex-colega de sigla, com ceticismo.

Em sua opinião, o sindicalista que deixou São Bernardo do Campo e hoje ganha ares de líder mundial perdeu uma oportunidade histórica de governar com as massas e romper com a lógica do conchavo que caracteriza a política nacional. 
Sobre a viabilidade de um governo socialista no Brasil, Plínio diz que o país não estaria preparado para uma ruptura, mas aposta na “conscientização” para uma mudança futura.

Para ele, o ponto de partida é o campo, onde reside o “pilar da desigualdade social”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Plínio ao R7.

R7 – Quais são as principais propostas da sua candidatura?

Plínio – O primeiro ponto é a reforma agrária. Porque a pobreza começa aí, a desigualdade começa aí, a opressão começa aí. É o pilar da desigualdade social e da dominação burguesa. Mexeu aí, mexeu em toda a estrutura de poder no país. No mesmo pé está a educação, que precisa de uma solução mais radical do que essa lógica de dar mais dinheiro para a escola pública. Precisamos caminhar para a educação pública. Com cuidado, mas criando condições para que todas as escolas sejam iguais em qualidade, e isso supõe que sejam todas estatais. Outro ponto é a socialização da medicina. Enquanto houver medicina privada e medicina pública, o pobre não será atendido de maneira igual ao rico, e a igualdade é um ponto fundamental no socialismo. Como somos socialistas, somos pela igualdade.

R7 – O senhor acha que o Brasil está preparado para ter um governo socialista?

Plínio – Não para um governo que faça a ruptura socialista. O quadro internacional é muito adverso, embora internamente você tenha condições. O desenvolvimento das forças produtivas do país é suficientemente grande para organizar uma economia na base de produção de bens de uso. Mas não há consciência. Então não vamos ter ilusão. Não há [espaço para um] governo de ruptura, mas um governo de medidas contra a lógica do capitalismo. São medidas, digamos, anticapitalistas, o que é uma contradição. Como é que num regime capitalista existe um governo anticapitalista? Isso gera uma contradição, e essa contradição vai ser o elemento de conscientização, para chegarmos no futuro à possibilidade de uma ruptura.

R7 – Tanto o pré-candidato do PSDB, José Serra, como a petista Dilma Rousseff declararam recentemente que são políticos de esquerda. O senhor concorda?

Plínio – Eu acho engraçado, porque todo mundo diz que o socialismo está morto, diz que o socialismo está fora de moda, mas todo mundo quer ser de esquerda. Mas a esquerda é o socialismo. Acho que esses candidatos na verdade não têm mais nada de esquerda. Mas, como dizia meu pai, pretensão e água benta você pode tomar à vontade. Então se dizem de esquerda, mas não são.

R7 – Qual é o legado do governo Lula?

Plínio – O [ponto] negativo é a grande mistificação da realidade. O Lula é um especialista em dourar a pílula. Ele criou uma imagem de que as coisas estão muito bem, e isso não é verdade. Tem um lado verdadeiro. De fato, as pessoas muito pobres receberam R$ 100 por mês para enganar a pobreza. Porque com R$ 100 é impossível que uma família tenha os alimentos de que precisa para manter a saúde. Em segundo lugar, o Lula criou a ideia de que não há solução fora do capitalismo. Ao contrário, não há solução no capitalismo, isso é um aspecto nefasto da administração dele.

R7- Há algum ponto positivo?

Plínio – Positivo não é o que ele fez, mas o que ele é. Positivo é o fato de um operário modesto chegar à Presidência da República. Isso deu um ânimo a todas as pessoas, tem um efeito de demonstração enorme. É um pouco como o Barack Obama [presidente dos Estados Unidos]. Independentemente do que faça o Barack Obama, o importante é ele, um negro que chegou à Presidência.

R7 – Fala-se que o PT sucumbiu ao jogo das alianças políticas após ter alcançado a Presidência. Como o senhor lidaria com a necessidade de negociar com outras forças, inclusive no Congresso, para governar o país?

Plínio – Esse problema da relação entre o Executivo e o Legislativo é um problema ético antes de ser um problema político. [Em último caso], vai-se à opinião pública, e a opinião pública pressiona. O governante tem uma enorme capacidade de falar com o povo, ele expõe para o povo, e o povo expõe para o deputado. Se o deputado quiser assumir a responsabilidade de derrotar o governo, que derrote. Agora, combinar orçamento, dinheiro, cargo público, de jeito nenhum.

R7 – O senhor acha que o presidente Lula, que é tão popular, perdeu a oportunidade de romper com essa lógica?

Plínio – Disse isso a ele quando assumiu [a Presidência]. Disse “vamos trabalhar com o povo, reúne o povo que você faz o que quiser”.

R7 – O senhor tem 79 anos, é o candidato mais velho entre todos os que disputarão as eleições presidenciais. A idade, e neste caso a experiência, podem ajudar?

Plínio – Acho que a vantagem disso é que você já viveu situações que os outros candidatos não viveram, situações extremamente importantes, e isso ajuda.

R7 – Como é fazer uma campanha com recursos limitados e pouco tempo de propaganda?

Plínio – Eu acho que a televisão é hoje o grande instrumento de comunicação eleitoral, mas já não é o único. Há outro instrumento chamado internet, extremamente importante. Sinto muito pelo fato de que não tenho esse instrumento [a televisão], pois torna mais difícil a comunicação com os eleitores. Mas a minha estratégia é a seguinte: eu uso o pequeno tempo que tenho para levar o telespectador ao meu site, e lá eu vou dizer as coisas com tempo. Acho extremamente democrático, acho que é um avanço político enorme o Twitter, a internet, esses portais, todas essas ferramentas.

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