Ação publicitária de construtora com homem-placa gera denúncias de racismo em São Paulo

Por:Luísa Lucciola

O jornalista César Hernandes, de 38 anos, flagrou no último sábado uma cena que lhe assustou. Em um cruzamento da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul de São Paulo, um jovem rapaz negro, que aparenta ser menor de idade, segurava uma placa de anúncio imobiliário. O material publicitário cobre seu tronco com a imagem em tamanho real de um homem branco, forte, de olhos claros.

— A diferença dessa para as outras placas (de anúncios) é a questão racial e social, o preconceito, que é enorme. É como se dissessem que um menino negro e pobre não serve pra vender apartamento, tem que botar a placa de um homem branco — afirma o assessor de imprensa. — Minha primeira reação foi de incredulidade. Perguntei se podia fazer a foto e ele, muito timidamente, permitiu. Como tinha um compromisso, não pude parar para conversar, mas a imagem foi chocante. E a gente aceitar isso, em pleno século 21, em São Paulo, uma cidade cosmopolita… É um absurdo!

Adolescente

Hernandes reforçou que o jovem parecia ter, no máximo, 17 anos. Ele ainda indagou se a existência dos homens-placa não infringe a Lei Cidade Limpa, que proíbe letreiros, faixas e outdoors no comércio paulistano desde 2007. De fato, em fevereiro 2012, a propaganda deste tipo foi proibida pela Prefeitura.

— As construtoras pagam uma fortuna para uma agência que contrata eles ali por uma merreca. Deixam eles lá o dia todo, expostos à chuva, ao sol e ao frio. De vez em quando, tentando ajudar, levo uma comida, um lanche para um deles. A gente faz o que pode, não dá para ajudar a todos — resume Hernandes. — Assim que vi, postei no Facebook. Acho que a rede social também serve para isso, para denunciar injustiças.

O post de Hernandes repercutiu na rede social. Com mais de 1.200 compartilhamentos até a tarde de segunda, a foto ainda recebeu centenas de comentários de apoio ao jovem e ao fotógrafo. “Não é culpa só da Construtora, a culpa também é do público consumidor que é convencido por uma propaganda como essa. A figura da propaganda vende mais do que o semblante do menino. Isso é terrível, terrível! Estou perplexa”, comentou uma usuária da rede social.

A construtora do empreendimento imobiliário Plano&Plano foi procurada pela equipe do EXTRA e avisou que se pronunciará por meio de nota, que ainda não foi enviada.

Fonte:Extra

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