Adesão de ditadura gera críticas à CPLP

Por: AMARO GRASSI

Bloco lusófono debate amanhã entrada da Guiné Equatorial, que tornou o português idioma oficial anteontem

Brasil apoia, alegando que ingresso aumentará influência sobre o país; intelectuais assinam carta aberta contrária


A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) discute amanhã a possibilidade de adesão da Guiné Equatorial, polêmica pretensão que opõe intelectuais lusófonos e governos interessados em expandir o bloco.

O país africano -de área equivalente a Alagoas e localizado na costa oeste central do continente- é observador da CPLP desde 2006 e agora pleiteia adesão plena à comunidade, criada em 1996 para aproximar os países de língua e cultura portuguesas.

 

O pleito, no entanto, é polêmico. A Guiné Equatorial não tem no português a sua principal língua, e somente anteontem o presidente Teodoro Obiang o oficializou como a terceira língua -as outras são espanhol e francês.

Além disso, a candidatura recebe críticas pelo fato de Obiang estar há 31 anos no cargo -chegou ao poder em um golpe em 1979. Ele é acusado de uma longa lista de desrespeitos aos direitos humanos, perseguição de opositores e fraude de eleições.

Para o Itamaraty, o ingresso da Guiné Equatorial, embora não esteja na pauta, deve ser discutido amanhã, na 8ª Conferência de Chefes de Estado da CPLP, em Luanda (Angola). O chanceler Celso Amorim representa o Brasil.

Em visita no início do mês ao país, de 560 mil habitantes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chancelou o ingresso na CPLP. O governo diz que a aproximação com o país é uma maneira mais eficiente de exercer influência.

 

CARTA ABERTA
Não é clara a posição dos outros oito países-membros da CPLP -Brasil, Portugal, cinco africanos e o Timor Leste-, embora existam acenos simpáticos à adesão do país.

A possibilidade de entrada do país mobilizou órgãos da sociedade civil dos países integrantes, e intelectuais assinaram um manifesto aberto exortando os chefes de Estado a vetarem a nova adesão. Assinam o texto de repúdio os brasileiros Chico Buarque e Frei Betto e o escritor moçambicano Mia Couto, entre outros intelectuais dos oito países-membros da CPLP. Mia Couto diz que o governo guinéu-equatoriano representa “tudo o que a África não quer ter como símbolo”.

“Há uma grande hipocrisia quanto a esse regime, que era condenado por EUA e outros ditos arautos da democracia até acharem petróleo lá. A CPLP poderia se posicionar contra essa hipocrisia.” O site da CPLP elenca entre seus objetivos e princípios a promoção da língua e o “primado da democracia”, mas não condiciona adesão à primazia do idioma português.

Pelo menos outros cinco países manifestaram interesse em fazer parte na CPLP, segundo Cláudio Ribeiro, professor da PUC-SP (leia abaixo): Indonésia, Austrália, Luxemburgo, Ucrânia e Suazilândia. O Itamaraty fala ainda em Marrocos e Áustria.

 

Colaborou JOÃO FELLET, de São Paulo

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...