Adoção por casais homossexuais aumenta nos EUA, apesar das barreiras legais!

 

Um número cada vez maior de casais homossexuais estão adotando crianças, de acordo com dados do censo norte-americano, apesar de uma paisagem legal desigual que pode deixar as crianças sem os direitos e proteções dos quais desfrutam os filhos de pais heterossexuais.

Por: Sabrina Tavernise

Casais de mesmo sexo estão explicitamente proibidos de adotar em apenas dois estados norte-americanos – Utah e Mississippi –, mas enfrentam obstáculos legais significativos em cerca de metade dos demais estados, principalmente porque não podem se casar legalmente nesses lugares.

Apesar dessa colcha de retalhos legal, a porcentagem de pais de mesmo sexo que adotam crianças aumentou dramaticamente. Cerca de 19% dos casais de mesmo sexo que têm filhos disseram ter um filho adotivo no lar em 2009, 8% acima de 2000, de acordo com Gary Gates, um demógrafo do Instituto Williams para a Lei da Orientação Sexual na Universidade da Califórnia, Los Angeles.

“A tendência é certamente de crescimento”, disse Adam Pertman, diretor-executivo do Instituto de Adoção Evan B. Donaldson, uma organização sem fins lucrativos que trabalha para mudar a política e a prática da adoção. “Agora é uma realidade.”

A realidade tem sido moldada pelo que os defensores das famílias homossexuais dizem ser duas tendências distintas: a necessidade de lares para as crianças que hoje aguardam adoção – atualmente cerca de 115 mil nos Estados Unidos – e o aumento da aceitação de gays e lésbicas na sociedade norte-americana.

A família não tem a mesma cara que tinha há 30 anos, eles argumentam, e a lei não tem acompanhado essa mudança.

A maioria dos obstáculos legais que os casais homossexuais que pretendem adotar enfrentam vem das proibições contra o casamento, de acordo com o Conselho para a Igualdade Familiar, um grupo de defesa dos direitos das famílias homossexuais. Na maioria dos estados, homossexuais solteiros podem adotar.

Embora os defensores das famílias homossexuais possam apontar algumas vitórias legais – decisões de tribunais na Flórida no ano passado e em Arkansas em abril – eles observam que estão acostumados a perder, como no Arizona, que recentemente aprovou uma lei exigindo que os assistentes sociais deem preferência a casais heterossexuais casados.

“São dois passos para frente, e um para trás”, diz Ellen Kahn, diretora do Projeto Família na Human Rights Campaign, que dá apoio a famílias de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneras e às agências que trabalham com eles.

Mas leis e políticas à parte, os defensores dizem que mais agências de adoção e assistentes sociais estão vendo os casais de mesmo sexo como um recurso extremamente necessário para as crianças que estão aos cuidados do governo.

“A realidade é que de fato precisamos de pais adotivos, e não importa qual a relação que eles tenham”, disse Moira Weir, diretora do departamento de emprego e família em Hamilton County, Ohio. “Se eles podem fornecer um lar seguro e amoroso para uma criança, não é isso que queremos?”

O governo Obama percebeu a maior participação que os gays e lésbicas podem ter nas adoções. O comissário do Departamento de Crianças, Jovens e Famílias, Bryan Samuels, enviou um memorando nesse sentido para as agências nacionais de bem-estar infantil em abril.

“O sistema de bem-estar infantil chegou à compreensão de que colocar uma criança numa família gay ou lésbica não é um risco maior do que colocá-la numa família heterossexual”, disse Samuels numa entrevista.

Os números são pequenos. Gates estima que 65 mil crianças adotadas vivam em lares nos quais o chefe de família é homossexual, o que corresponde a cerca de 4% da população adotiva.

Kahn, que treina agências de adoção para trabalhar com candidatos gays e lésbicas, diz que o número de agências com as quais ela trabalha mais do que dobrou durante os últimos cinco anos, para cerca de 50.

Ela acrescentou que a discriminação ainda continua e que em alguns estados conservadores, as agências de adoção que servem a famílias homossexuais funcionam como uma “rede subterrânea”.

Mas as adoções estão acontecendo de qualquer forma, mesmo em lugares em que a lei não dá plenos direitos a ambos os pais.

Matt e Ray Lees, um casal de Worthington, Ohio, disseram que foram selecionados como pais de um bebê de 7 meses, antes de vários casais heterossexuais, em parte porque eles já haviam adotado com sucesso duas crianças mais velhas.

Os assistentes sociais fizeram checagens detalhadas sobre o passado de ambos, mas de acordo com a lei de Ohio, eles precisam estar casados para adotarem juntos, então, quando o processo legal de adoção começou, apenas um deles pode participar. (O casamento entre pessoas de mesmo sexo é ilegal em Ohio.)

Os Lees se revesaram. Ray adotou três – duas crianças naturais do Haiti e um bebê – e Matt está concluindo a adoção de cinco irmãos de quem a mãe, viciada em drogas, não pode mais cuidar.

“Quando consideramos isso pela primeira vez, pensamos, as pessoas vão achar que estamos loucos de ter oito filhos”, disse Matt Lees, 39.

Mas eles não queriam simplesmente separar os irmãos e, depois de pensar com cuidado, decidiram aceitá-los.

“Foi a melhor forma que poderíamos pensar para passar os próximos 20 anos de nossas vidas”, disse ele.

Eles conectam suas famílias, separadas legalmente, por meio de acordos de custódia. Estes não fornecem o direito total que tem um pai, porque como muitos estados, Ohio não permite adoções por outro pai por parte de casais não casados, a menos que o primeiro pai renuncie seus direitos sobre a criança. Eles precisam ter dois planos de saúde para as duas famílias.

Pais de mesmo sexo que adotam crianças tendem a ser mais ricos e educados do que a grande população de pais do mesmo sexo, de acordo com Gates.

Matt e Ray Lees têm terceiro grau completo e bons empregos na Nationwide, uma companhia de seguros com base em Columbus.

Foi difícil para eles no início. Sua filha mais velha, com seis anos na época, chorava e perguntava quem cozinharia e quem arrumaria seu cabelo. Mas esses dias já se passaram há muito tempo. E embora a família seja uma curiosidade no bairro – dois homens brancos dirigindo uma minivan Mercedes com oito crianças negras – eles não estão sozinhos. Há pelo menos duas outras famílias homossexuais criando filhos adotivos ali perto.

A adoção não atraiu o mesmo tipo de atenção em todo o país como o casamento homossexual. Os defensores dizem que assim é melhor. Quanto mais o assunto estiver sob os olhos do público, maiores são as chances de que deputados conservadores tentem bloqueá-lo, acrescentam.

Mas grupos conservadores dizem que a luta está a favor dos homossexuais, porque os tribunais tendem a ficar ao seu lado nas decisões. De fato, um tribunal em Durham County, Carolina do Norte, vinha aprovando em silêncio adoções por um segundo pai, que não eram formalmente permitidas por lei, até que uma decisão do Supremo Tribunal o impediu em dezembro.

E a expansão das leis de união civil fez com que algumas organizações religiosas beneficentes interrompessem ou modificassem suas operações em cidades e estados em que as leis foram aprovadas, incluindo Illinois este mês, onde várias organizações beneficentes suspenderam temporariamente as inscrições de novos pais.

Peter Sprigg, membro sênior de estudos de política no Conselho de Pesquisa da Família, um grupo conservador, diz que o objetivo dos defensores da adoção por casais de mesmo sexo é “silenciar pessoas como eu”.

Mas Pertman acredita que a tendência de aumento da adoção é irreversível.

“A guerra já foi vencida, mas ainda há batalhas a lutar”, disse ele.

Tradução: Eloise De Vylder

 

Fonte: Blog Diz AI

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