Charles Taylor é acusado de participar de esquema de “diamantes de sangue”
O advogado do ex-presidente da Libéria, Charles Taylor, deixou nesta terça-feira (8) a sala de audiência do Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL), recusando-se a assistir ao início da leitura da acusação. Courtenay Griffiths, advogado de Taylor, anunciou sua retirada aos juízes do TESL, cuja sede fica em Leidschendam, perto de Haia.
– Não acreditamos que seja apropriado participar.
O advogado criticou a decisão dos juízes de não aceitar a apresentação do documento que resume os argumentos da defesa, vinte dias depois da data limite fixada pelo tribunal.
– Nosso dever é sair.
A presidente Teresa Doherty ordenou em vão que Griffiths se sentasse para ouvir a acusação.
– O processo vai seguir, já houve muitos atrasos.
O processo de Charles Taylor, primeiro chefe de Estado africano acusado pela Justiça internacional, foi aberto em janeiro de 2008 na Holanda.
Entenda o processo contra Charles Taylor
Após mais de três anos de julgamento a milhares de quilômetros de onde sucederam os fatos por razões de segurança, a causa contra o criminoso de guerra africano está em sua etapa final, a última antes da fase de deliberações dos magistrados.
Em seguida, será pronunciada a sentença, que deve ser definida no final de ano.
Até agora seus advogados sustentavam que o ex-líder é “um homem de paz” que somente tentou proteger a Libéria de possíveis ataques do país vizinho.
Taylor nega ter entregado armas aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (RUF) em Serra Leoa em troca de receber os chamados “diamantes de sangue” extraídos por eles.
O Tribunal não prevê em seus estatutos a pena de prisão perpétua, mas a detenção de longa duração e sem limite previsto.
Assim, na prática Taylor poderia morrer preso no Reino Unido, onde se espera que cumpra a sentença caso seja considerado culpado.
Modelo Naomi Campbell foi “estrela” de julgamento
Ao longo do julgamento, foram ouvidas mais de 110 testemunhas, embora o momento de mais expectativa tenha acontecido em agosto de 2010, quando depôs a modelo Naomi Campbell, que o ditador teria presenteado com supostos “diamantes de sangue” com os quais financiava as guerrilhas.
A partir das declarações de Naomi, das de sua ex-agente Carole White e da atriz Mia Farrow, a acusação tentou demonstrar aos juízes que Taylor mentiu quando afirmou durante o julgamento que nunca havia colocado as mãos em diamantes brutos.
Apesar de as três mulheres terem afirmado que a modelo recebeu diamantes na noite seguinte a um jantar em 1997 na África do Sul, na residência do então presidente do país, Nelson Mandela, não concordaram no número das pedras – uma só, segundo Mia Farrow, três, segundo Naomi, cinco ou seis, segundo Carole.
Os promotores também terão dificuldades para provar que esses diamantes provinham dos “homens de Taylor”, visto que a defesa do ex-presidente liberiano forçou Carole a reconhecer que somente “supunha” que quem levou os diamantes à modelo trabalhava para ele.
Conhecidas como “diamantes de sangue”, as pedras preciosas em Serra Leoa eram extraídas com mão-de-obra escrava, boa parte da qual formada por crianças.
Fonte: R7