Como parte da programação de aniversário de 37 anos de Geledés – Instituto da Mulher Negra, ocorreu no dia 26 de abril um encontro sobre comunicação com a rapper Ajuliacosta e com a criadora de conteúdo digital Ana Paula Xongani. O evento foi destinado aos participantes do Curso de Multimídia, realizado pela organização com o intuito de formar jovens negros e negras e estimula-los à produção de conteúdos com enfoque nas temáticas de raça e gênero.
Dona de hits como “Não foi do nada”, “Homens como você” e “Você parece com vergonha”, a rapper Júlia Costa é uma das grandes revelações do rap nacional. Além disso, atua no meio da moda com a marca de roupas AJC Shop, criada e gerenciada por ela. Já Ana Paula Xongani é apresentadora e empresária nas áreas de moda e comunicação, além de CEO e estilista do Ateliê Xongani.
A mesa contou ainda com mediação de Semayat Oliveira, cofundadora do grupo Nós, mulheres da periferia, consultora no podcast Mano a Mano e editora do Portal Geledés. A jornalista iniciou a conversa perguntando às convidadas como construíram suas personas para se apresentarem ao público nas redes sociais.
Para Júlia Costa, o caminho foi se mostrar fiel ao que canta em suas músicas e tratar bem seu público,tanto nas redes sociais, quanto na vida real. Ana Paula Xongani contou que construiu sua persona com o objetivo de romper estereótipos, a fim de ser vista como uma comunicadora potente, que falava sobre assuntos diversos e coerentes com o que acredita.
Em seguida, as convidadas compartilharam como mantêm a autoconfiança ao longo de suas carreiras. Júlia pontuou a importância de cuidar do corpo, da mente e da espiritualidade, além de permanecer sendo uma sonhadora. A rapper relembrou um período em que se comparava muito com outras pessoas nas redes sociais, até que optou por reduzir o uso de telas.
Ana Paula falou que se cerca de pessoas que acreditam no seu trabalho, grupo ao qual também se dirige no momento de pedir conselhos. Contou ainda sobre a importância de aproveitar o processo dos projetos e realizações, sem focar apenas na expectativa da conclusão.
Em relação à estratégia de comunicação através de seu trabalho, Júlia afirmou desejar “que a arte seja um lugar de debate” e, ao trabalhar em suas criações, pensa em causar impacto e reflexão no público.
Já Ana Paula salientou que cria seus conteúdos pensando principalmente nas mulheres negras, de forma que elas se sintam contempladas. A empresária aconselhou os jovens a olharem as redes sociais como meio para se chegar a algum lugar, e não como um objetivo final. “Entender a rede social como um meio te dá mais tranquilidade para jogar esse jogo. E qual é o fim? É quando se tem encontros reais”, afirma.
Outro ponto abordado na conversa foi a cena atual do rap feminino no Brasil. Júlia analisa que o reconhecimento dado às rappers da atualidade se deve ao fato de que elas despontaram no mesmo período, com suas especificidades, e que uma dá força para o outra. “Trabalhar no rap sendo mulher é um desafio. (…) mas o rap serve pra gente falar o que pensa, protestar, reclamar e pra nossa voz ser ouvida”, diz.
A juventude presente teve a oportunidade de formular perguntas para as convidadas. Os rótulos colocados para mulheres negras, desafios enfrentados no início de uma nova carreira e dicas para quem está começando foram alguns dos assuntos abordados. Como respostas, receberam conselhos que destacaram a importância de acreditarem em si mesmos, de respeitarem o processo de cada iniciativa e de normalizarem os erros, pois fazem parte do caminho para o aperfeiçoamento.