Alunos impedem professor de homenagear golpe militar em sala de aula

Professor tenta homenagear o golpe militar de 1964 em sala de aula mas é surpreendido por alunos

Na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (FDUSP), neste 31 de março, dia que representou o orquestramento do golpe de 1964 que culminou com a retirada de João Goulart do poder e a instauração de uma ditadura, o professor Eduardo Botelho Gualazzi tentou prestar uma homenagem aos golpistas com a leitura de uma carta chamada “Ode ao Golpe Militar de 64“.

O docente certamente não contava com o engajamento de alguns jovens estudantes que, felizmente, ainda são capazes de indignar-se com o capítulo da história brasileira que institucionalizou a tortura, a censura e a desigualdade.

“Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer… que eu não mudo de opinião”

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Estudantes explicam o protesto

Em documento entregue aos alunos — escrito em papel timbrado e registrado em cartório –, o professor Gualazzi argumenta que “em 1964, o socialismo/comunismo esquerdista-totalitário almejava apoderar-se totalmente do Brasil, mediante luta armada e subversão de todas as instituições públicas e privadas daquela época. (…) Os líderes civis e militares da Revolução de 1964 sabiamente consolidaram, ao longo de vinte e um anos (1964-1985), infraestrutura e superestrutura que tornaram o Brasil atualmente.”

De acordo com a estudante do segundo ano de direito Isabella Ferreira, 21, o objetivo do ato era impedir que o professor utilizasse a sala de aula para comemorar a “revolução”.

A aluna acrescenta que Gualazzi já havia avisado aos alunos sobre a aula comemorativa no dia 31 de março. “Ao saber disso, os alunos quiseram se organizar por achar um absurdo um professor deixar de dar aula para comemorar o golpe”, afirmou.

A estudante Junia Coelho Lemos, 23, é aluna da disciplina e afirmou que a posição do professor em relação ao golpe de 64 nunca foi segredo. “Ele sempre teve uma opinião forte. Uma semana antes ele havia dito que iria dar um depoimento sobre a ditadura. Ontem, ele começou a aula dizendo que iria falar sua opinião e que quem não quisesse ouvir poderia sair da sala. Ele ficou uns 15 minutos falando isso até que começou a ler um documento que havia escrito”, explicou a jovem que não tinha ideia do que iria presenciar.

Para participar da intervenção na sala de aula, os estudantes convidaram Antonio Carlos Fon, ex-militante que foi torturado durante a ditadura. Segundo Isabella, eles queriam estimular o debate entre o professor e Fon sobre o assunto.

No meio do protesto, o professor contrariado resolveu deixar a sala de aula, explica Junia. “E ele não voltou mais. A turma ficou ali mais um tempo discutindo o que tinha acontecido e ele não voltou.”

Confira abaixo o depoimento de um estudante da FDUSP sobre o episódio.

Guilherme Rossini

Poderia ser mais um dia de aula, como outro qualquer, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Quando, de repente, um professor começa a ler uma carta de “Ode ao Golpe Militar de 64”.

Por sorte, os alunos não permitiram tamanha ofensa àqueles que foram mortos e torturados pela Ditadura. Episódios como esse me fazem sentir orgulho de estudar naquele local; ao lado de pessoas democráticas e politizadas, ainda que o mesmo não possa ser dito de alguns professores…

Nesse sentido, passados 50 anos do “Golpe da Mentira”, sinto-me na obrigação de bradar pelos seguintes dizeres:

“Pelo Direito à Memória! Pra que nunca ninguém se esqueça! Pra que nunca mais aconteça!”

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