por: MARIANA BASTOS
Apenas cinco meses separam um dos momentos mais traumáticos da carreira de Wallace, 25, de seu auge
Negro, de origem humilde, o oposto da seleção foge do padrão dos atletas do vôlei, um esporte dominado no Brasil por brancos de classe média. Não é à toa que ele não esconde que seu maior ídolo é o líbero Escadinha, um dos poucos de origem parecida.
Em março, o caçula da seleção foi vítima de ofensa racial durante uma partida da Superliga. Agora, em Londres, com a contusão de Leandro Vissotto, deve ganhar a titularidade na equipe de Bernardinho, justamente em uma semifinal de Olimpíada.
O time busca hoje, às 15h30 (de Brasília), contra a Itália uma vaga na final dos Jogos.
Wallace não gosta de relembrar do dia em que foi chamado de “macaco” por uma torcedora no ginásio do Minas, em Belo Horizonte.
Desde o episódio, ele não toca mais no assunto. Na época, o oposto disse: “É revoltante escutar uma coisa dessas, não dá para aceitar.”
Sua mãe, Gleci Souza, pediu que ele não deixasse que o episódio afetasse a carreira. “Falei para ele não se abalar mais. Ele tinha que demonstrar o contrário, ter orgulho da cor da pele dele e ser um negro representando o vôlei do Brasil em uma Olimpíada”, afirmou Gleci.
Wallace seguiu à risca. Logo depois, destacou-se na final da Superliga, conduzindo o Cruzeiro ao título.
O garoto tímido nem precisou fazer marketing pessoal para chegar à seleção. Com seu talento, demonstrado novamente durante a Liga Mundial, Bernardinho não teve outra opção senão convocá-lo para a Olimpíada e barrar Théo, oposto que estava na seleção em praticamente todo o último ciclo olímpico.
Na Olimpíada, Wallace, mesmo reserva, teve momentos de lampejo quando foi solicitado para entrar em quadra. Não se intimidou diante da grandiosidade do evento.
“O time tem de dar forças a ele. Ele é muito correto, humilde e chega ao time com uma responsabilidade muito grande, porque o time é muito experiente. E acho que até agora ele tem ido muito bem”, elogiou Bernardinho.
O jovem oposto recusa-se a ser o “café com leite” do time. “A cobrança comigo tem que ser igual à de qualquer pessoa que entrar no jogo.”
Sua mãe conta que Wallace demonstra ter personalidade desde os primeiros passos no vôlei. Só precisava de uma chance para se mostrar.
“Com 16 anos, quando estava no Banespa, ele pensou em desistir porque ficava só no banco. Ele reclamava que nunca tinha a oportunidade de jogar. Quando deram a chance de ele entrar, ele destruiu a partida e não deixou mais de ser titular”, conta.
Uma chance aparece de novo agora. A julgar pelo histórico, Wallace parece pronto para assumir papel fundamental na seleção quatro anos antes do que Bernardinho projetara.
Fonte: Bol