Anjo torto – Por: Fernanda Pompeu

Um dos grandes prazeres de uma Copa do Mundo, além do espetáculo futebolístico internacional, é reviver histórias de outros craques e Mundiais. A Copa também é escola. Fico imaginando a quantidade de meninas e meninos que souberam da existência da Croácia, da Bósnia, e até da Costa do Marfim.

O Brasil é o país do futebol, mais ainda do que do Carnaval. Não vejo fanatismo carnavalesco nos sulistas, mas vejo eles pulando como loucos com um gol da seleção, ou chorando como crianças no último 7×1 contra nós. A bola verde-amarela nos irmana na alegria, tristeza, júbilo, decepção. Ela transforma em nação de iguais um dos países mais desiguais do mundo.

Muita gente pergunta qual será o legado deste Mundial de 2014. Difícil adivinhar o que ficará para o futuro. Mas percebo um legado para trás. Nunca se citou tanto, e com todo merecimento, Nelson Rodrigues – o inventivo escritor das crônicas esportivas. Também ganha holofote a Copa de 1950. Sessenta e quatro anos depois, atualizamos velhas narrativas.

A Copa de 50 é cheia de histórias mil. Desde a polêmica (e acertada) construção do estádio do Maracanã, o mítico gramado onde todas as seleções hoje querem jogar. Meu pai, então com 20 anos, viu a traumática final, quando o Uruguai derrotou o Brasil. Nascida cinco anos depois, ouvi a lembrança paterna por vezes enésimas.

Assim como pouco me recordo de ver jogar o Mané Garrincha (1933-1983). Mas Nelson, meu pai, Ruy Castro, o velho feirante e toda a literatura esportiva contam e recontam o que fez o anjo das pernas tortas. Ser craque de futebol tendo as pernas tortas também é uma metáfora do brasileiro.

Porque a gente não é muito técnico e nem retinho. Temos um certo pânico com planejamentos. Uma dificuldade amazônica com o cumprimento de metas e prazos. Só estudamos na véspera da prova. Entregamos projetos na última hora. Deixamos para amanhã o chato de hoje. Penamos para entender palavras como eficácialongo prazolegado. Sim, há algo de torto em nós!

Mas, igualzinho ao Mané, às vezes somos craques. Arranjamos alegria até no deserto. Acendemos velas no meio das águas. De repente, soluções criativas surgem para salvar a pátria. Mesmo que seja para salvá-la de nós mesmos. Para fazer tudo isso também é preciso talento.

Fonte: Yahoo

+ sobre o tema

para lembrar

APAN participa de audiência pública para debater futuro das políticas afirmativas no audiovisual

No próximo dia 3 de setembro, quarta-feira, a Associação...

Condenação da Volks por trabalho escravo é histórica, diz procurador

A condenação da multinacional do setor automobilístico Volkswagen por...

Desigualdade de renda e taxa de desocupação caem no Brasil, diz relatório

A desigualdade de renda sofreu uma queda no Brasil...

Relator da ONU critica Brasil por devolver doméstica escravizada ao patrão

O relator especial da ONU para formas contemporâneas de...

ECA Digital

O que parecia impossível aconteceu. Nesta semana, a polarização visceral cedeu e os deputados federais deram uma pausa na defesa de seus próprios interesses...

ActionAid pauta racismo ambiental, educação e gênero na Rio Climate Action Week

A ActionAid, organização global que atua para a promoção da justiça social, racial, de gênero e climática em mais de 70 países, participará da Rio...

De cada 10 residências no país, 3 não têm esgoto ligado à rede geral

Dos cerca de 77 milhões de domicílios que o Brasil tinha em 2024, 29,5% não tinham ligação com rede geral de esgoto. Isso representa...