Aos 14, PhCôrtes usa canal para falar de racismo e exaltar seus heróis negros

“Você vive no Brasil? É jovem? É negro? Mora em favelas ou bairro periféricos? Sim, eu queria ser mais delicado ao dizer isso, mas você tem 25 chances a mais de ser assassinado do que jovens brancos brasileiros!”

por Christiana Mariani no UOL

Foi assim que Pedro Henrique Côrtes Motta, 14, o youtuber PhCôrtes, 15 mil seguidores, abriu um de seus vídeos para protestar contra o assassinato de cinco jovens negros ocorrido no Rio de Janeiro, no final do ano passado. Pedro é jovem, é negro e vive no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, numa casa simples, com quadros de temática africana e livros de Nelson Mandela.

conheça o canal de PH Côrtes

Bastante articulado e sob a vigilância constante da mãe, gosta de fazer vídeos desde pequeno e, aos 12, criou um canal no YouTube. Começou falando sobre temas gerais, até que, no ano passado, uma ida ao teatro no Dia das Crianças o fez mudar o estilo de seus vídeos.

A peça era “O Topo da Montanha”, sobre a última noite do ativista americano Martin Luther King. Depois do espetáculo, Pedro pediu autógrafos aos atores Lázaro Ramos e Taís Araújo e diz ter voltado para casa profundamente mexido, disposto a compartilhar com as pessoas o impacto que a peça lhe causou.

O resultado foi o primeiro vídeo do projeto “Meus Heróis Negros Brasileiros”, sobre Zumbi dos Palmares. A audiência de Pedro deu um salto. Seus vídeos mais antigos raramente atingiam mil visualizações. O de Zumbi ultrapassou 43 mil e atraiu milhares de novos assinantes para o canal.

Seguiram-se outros heróis: o escritor Machado de Assis, o engenheiro André Rebouças e a cantora Elza Soares. E começaram a chegar convites: para o programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da Globo, para o quadro “Click Esperança” (uma parceria do “Fantástico” com o “Criança Esperança”, também da Globo), para o YouTube Black, evento sobre técnicas de vídeo para influenciadores digitais negros.

O esquema de produção ainda é caseiro. Pedro grava a si mesmo em seu quarto, decorado com painéis de personalidades negras, como Barack Obama e Malcolm X. Depois, edita o vídeo no laptop.

Ele diz que o projeto lhe deu maior consciência do racismo. “Quero quebrar essa ideia de que negro no Brasil só foi escravo. Quero que as pessoas tenham por heróis negros a mesma admiração que têm por D. Pedro 2º, por exemplo.”

A fama cresceu a ponto da mãe de Pedro, Egnalda, 43, ex-gerente de telemarketing, hoje atuar como pesquisadora, roteirista e agente do filho –ela também cuida da carreira de outra vlogueira negra, Nátaly Neri, do canal Afros e Afins. Até o ídolo virou fã: “O Ph deu muito sentido a tudo que eu fui aprendendo ao longo da vida, de como é importante a gente contar as nossas histórias”, diz Lázaro Ramos.

Pedro afirma que ainda não ganha dinheiro com o YouTube, mas já firmou parcerias. Uma com um site que vende livros sobre diversidade e equidade racial. Outra com uma grife de camisas de estilo afro usadas nos vídeos. As camisas e o cabelo meticulosamente penteado com uma esponja (aprenda no vídeo “Enrolando o cabelo com esponja”, 11 mil visualizações) formam a identidade visual do youtuber.

O sucesso também teve um lado negativo. Egnalda denunciou à polícia o autor de comentários violentamente racistas no canal do filho. É um menor de idade, e ela pretende conversar com os pais dele.

Faltam pelo menos quatro anos para Pedro entrar numa faculdade, que, como diz, talvez seja de cinema. Parece o destino natural para quem ganhou a primeira câmera aos nove anos de idade e nunca mais parou de filmar.

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