Após uma semana, veja perguntas sem respostas sobre a morte de João Victor

Agressão? Parada cardiorrespiratória? Conduta questionável de policiais?. Muitas dúvidas sobre a morte do garoto João Victor, 13 anos, e o possível envolvimento de funcionários de uma unidade do Habib’s, na zona norte de São Paulo, ainda pairam no ar. O garoto teve um infarto pouco depois de ter sido perseguido por funcionários do restaurante. O garoto foi socorrido no local, mas não resistiu.

Da Uol

O caso ocorreu na noite de domingo (26) e foi registrado pela Polícia Civil na madrugada de segunda (27). Após uma semana, a família do garoto ainda espera por respostas.

Os pais acusam os funcionários de terem agredido João Victor. O Habib’s, em notas oficiais enviadas na semana passada, afirmou que estava colaborando com as investigações e prestando auxílio aos familiares – sem detalhar qual tipo de ajuda. Na quinta-feira (02), a empresa disse ainda ter afastado os dois funcionários até que sejam finalizadas as investigações.

A assessoria da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública) enviou uma nota na sexta-feira (3) informando que a polícia aguarda resultado do IML para confirmar a causa da morte. A Secretaria não deu detalhes sobre as investigações nem respondeu a questionamentos sobre a conduta dos policiais.

“A Polícia Civil esclarece que o 28º Distrito Policial investiga, por meio de inquérito, a morte de João Victor de Souza Carvalho, de 13 anos, ocorrida na noite de domingo (26), em frente a um restaurante na Freguesia do Ó. O caso foi registrado no 13º DP como morte suspeita. Algumas pessoas já prestaram depoimento na delegacia e a polícia aguarda resultado dos laudos para confirmar a causa da morte”.

Mal súbito, agressão ou os dois?

Esta é uma das principais dúvidas sobre o caso. Na declaração de óbito de João Victor, registrada pelo Hospital Mandaqui, consta que o garoto morreu em decorrência de um infarto do miocárdio.

Apesar disso, a família alega que ele nunca teve problema do coração e argumenta que os funcionários do restaurante agrediram João Victor e que isso causou a sua morte. A única testemunha do caso até o momento disse em depoimento que, no dia da morte, viu um homem segurando o garoto pela gola da camisa e dando um soco na cabeça dele.

Por outro lado, os funcionários do restaurante dizem, de acordo com o boletim de ocorrência registrado na segunda, que o menino estava “incontrolável” e ameaçando funcionários e clientes. Eles tentaram reprendê-lo e ele desmaiou depois de ter saído correndo.

O pai de João Victor confirmou que o filho era usuário de lança-perfume, mas que fazia tratamento há um bom tempo e estava muito melhor.

Ainda não é possível confirmar se a agressão teve a ver com a morte do jovem ou se ele morreu em decorrência do uso de drogas. De qualquer forma, o corpo do jovem passou por exames detalhados no IML (Instituto Médico Legal), e a família e os investigadores aguardam o laudo conclusivo.

Por que a única testemunha não foi ouvida no dia da ocorrência?

Outra questão que está sem resposta é por qual motivo Silvia Helena Troti, 59, não foi ouvida pelos policiais que atenderam a ocorrência no domingo.

Vizinha da família de João Victor, ela disse ter visto quando o menino levou um soco de um dos funcionários. Na data, ela afirmou que os policiais a chamaram de “noia” [com envolvimento com drogas] e disseram que não serviria para depor. Seu depoimento só foi realizado na quarta-feira (1º), três dias depois do ocorrido.

Em seu relato no 28º DP, ela repetiu que viu João Victor ser agredido e que em determinado momento ele desmaiou.

Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que o garoto é visto atravessando a rua correndo e sendo seguido por dois homens. Após alguns instantes, eles voltam para o lugar de origem, arrastando o menino e o jogando contra o chão. Aparentemente, ele está desacordado e não demonstra reação.

Por que os pais do garoto só foram ouvidos depois do feriado?

Os pais de João Victor só tiveram seus depoimentos colhidos na tarde de quarta-feira (1º), três dias depois da morte, que ocorreu durante o feriado de Carnaval. Para o advogado Ariel de Castro Alves, que acompanha a família e que é membro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana), a demora na abertura do inquérito é absurda.

“Os fatos ocorreram às 19h do dia 26. O registro ocorreu apenas às 4h da manhã do dia 27. E as investigações começaram só três dias depois. Apurações de mortes não podem aguardar o final de feriados”, relatou, em referência ao Carnaval.

UOL tenta desde a tarde de quinta-feira (2) um posicionamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública) sobre a abertura do inquérito e sobre a demora para ouvir a única testemunha do caso, mas ainda não obteve um retorno detalhado sobre essas questões.

Como ficará o inquérito caso seja comprovada a morte natural?

Ainda é cedo para dizer. É preciso esperar o resultado do IML sobre o que causou a morte de João Victor.

Em todo caso, mesmo que o laudo comprove que João morreu por causas naturais, a linha de investigação pode levar em conta se a perseguição dos funcionários contribuiu para um infarto, “acelerando uma morte natural”, de acordo com o advogado Alves.

Para ele, se isso se confirmar, os funcionários envolvidos na ação podem ser indiciados por homicídio qualificado por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima.

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