Aposentada é presa após cuspir em produtora e delegada negras

Levada para a delegacia por ofensa racial e racismo a uma produtora audiovisual (foto) em supermercado, aposentada tem ataque em unidade policial e xinga delegada

Por CARLOS CARONE, do Metrópoles 

Uma servidora aposentada do Ministério das Relações Exteriores, de 77 anos, vai passar a noite desta terça-feira (28/6) na cadeia acusada dos crimes de injúria racial e racismo. Terezinha de Oliveira Silva se envolveu em uma confusão no Super Adega, no Cruzeiro, ao puxar os cabelos da produtora audiovisual Elizabete Braga, 38. Incomodada, Elizabete reclamou com a mulher, que passou a xingá-la de “negra do cabelo ruim, negra nojenta e mal educada”.

A produtora decidiu chamar a polícia depois que a auxiliar de chancelaria cuspiu nos pés dela, quando se preparava para passar as compras no caixa. “Essa senhora (Terezinha) se aproximou de mim curiosa e perguntou se eu usava peruca ou se o meu cabelo era natural. Em seguida, ela puxou o meu cabelo. De forma respeitosa, pedi que não fizesse isso, e ela teve um ataque de fúria”, explicou Elizabete.

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Mesmo após as agressões verbais, a produtora resolveu ir embora mas foi novamente confrontada pela aposentada no estacionamento do supermercado. Irritada, a mulher teria afirmado que não gostava de negros e cuspiu novamente nos pés da produtora. “Depois disso, resolvi chamar a polícia. A senhora ainda tentou me agredir fisicamente dizendo que era faixa preta de caratê e me chamou para briga. Logicamente, até por respeito a idade dela, me contive”, disse.

Barraco na delegacia
Após a confusão, policiais da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) buscaram a aposentada em casa para levá-la até o Departamento de Polícia Especializada (DPE). No entanto, o descontrole de Terezinha não respeitou nem a delegada que fazia o auto de prisão em flagrante.

Ela passou a ofender a delegada-adjunta que fazia a ocorrência, Maria do Carmo Correa, que é negra. ” Não gosto de negros”, teria dito a aposentada, que mais uma vez, cuspiu no chão. Terezinha acabou sendo autuada duas vezes pelo mesmo crime. Segundo a delegada-chefe da Decrin, Gláucia Cristina da Silva, a aposentada responderá por racismo, que prevê pena de 1 a 3 anos de prisão. “Como é inafiançável, ela irá dormir na Deam e, depois, participará da audiência de custódia. Caso o juiz entenda que deva permanecer presa, seguirá para o complexo da Papuda e ficará lá até o julgamento”, ressaltou.

A delegada lembrou que, infelizmente, esses casos ainda são comuns, mas somente recentemente as pessoas agredidas passaram a denunciar. “Pedimos para que toda vítima use o canal de denúncia da Polícia Civil por meio do telefone 197. Assim temos uma ferramenta valiosa para tocar as investigações”, destacou Gláucia.

 

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