Aprendizados ao longo de 2020 ajudam escola a acolher professores neste ano letivo

Enviado por / FonteVivescer

EMEI Orígenes Lessa, de São Paulo, criou o hábito de realizar encontros virtuais para incentivar autoconhecimento, meditação e autocuidado dos professores.

Muito tem se falado sobre a importância de garantir espaços e momentos na ressível, mais seguros para retomar a vida na escola?

Essas são algumas perguntas que começaram a ser estudadas ainda em 2020 pela Escola Municipal de Educação Infantil Orígenes Lessa, em São Paulo (SP). Rosamaria Cristina Silvestre, diretora da instituição, explica que as atividades foram pensadas para incentivar o autoconhecimento em um movimento de promover um cuidado com as profissionais. Para Rosamaria, somente quando um profissional é assistido que ele poderá assistir os outros.

“Durante o ano passado, nossas professoras precisaram lidar com as emoções das crianças, que ainda não sabem verbalizá-las, e também com as emoções das famílias, já que muitos responsáveis perderam o emprego e tinham entes queridos infectados com a Covid-19. Se as professoras não estivessem minimamente fortalecidas ou com uma abertura para acolher as crianças e os pais, o trabalho com as crianças não poderia ser feito. Sempre soubemos da importância da relação família-escola, mas 2020 deixou isso ainda mais evidenciado”, explica a diretora.

Parceria com curso de pedagogia

Em parceria com a UniSant’Anna, cada aluno do curso de pedagogia ficou responsável pela tutoria de duas professoras. A ideia era aproveitar o conhecimento em tecnologia dos jovens estudantes de ensino superior, para apoiar professores da escola a produzir e editar vídeos e outros conhecimentos para possibilitar as aulas a distância. “Ao mesmo tempo, havia uma troca na outra via também, porque as professoras contavam aos alunos como é a realidade do trabalho com crianças na educação infantil”, afirma Rosamaria. Ao final do processo, as professoras receberam um comprovante da universidade, atestando sua participação.

Luto e perda: como lidar?

Assim como muitas outras escolas, a Orígenes Lessa também vivenciou situações de luto: uma funcionária da escola faleceu em 2020 e professoras perderam parentes para a Covid-19. Por isso, a escola convidou a professora Maria Khadiga Saleh, supervisora escolar aposentada da rede municipal de São Paulo, para participar de uma conversa online com o corpo docente. “Depois que a professora se aposentou, ela atuou no serviço funerário de São Paulo. Em razão disso e de sua vasta experiência nas escolas, convidamos para uma conversa sobre perda, sobre luto e sobre morte.”

A importância do autoconhecimento, autocuidado e de conhecer os professores

Em outra parceria, dessa vez com o Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo, a escola contou com a participação de psicólogos em quatro encontros, que ajudaram em conversas sobre a vivência da pandemia, como professores podem se acolher e se conhecer cada vez mais. Rosamaria conta que ao longo do ano passado precisou estar atenta a diversas situações entre o corpo docente. “Certa vez marquei reunião com uma professora e ela não entrou online na hora combinada. Fui verificar o que estava acontecendo e ela explicou que, como tinha insônia e não dormia à noite, trocava o dia pela noite e acabou perdendo a hora.”  Segundo a diretora, os psicólogos conseguiram mostrar que são pequenas ações do cotidiano que podem evoluir para quadros mais graves, como uma depressão, por exemplo. “Eles nos mostraram que podemos prevenir essa evolução se nos conhecermos e nos acolhermos.”

Meditação e ioga

A sequência de encontros online com especialistas ao longo de 2020 também abordou o mindfulness e ioga. Assim como nos encontros anteriores, saúde mental foi um tema muito abordado. Rosamaria explica que sentia a necessidade de trabalhá-lo com os docentes a partir das conversas do dia a dia. “Tivemos duas professoras que perderam parentes para a Covid-19. Então precisamos acolhê-las, mas chega um momento que é aquele ditado ‘santo de casa não faz milagre’. Então trazer alguém de fora, mesmo que seja falar a mesma coisa com outras palavras, ajudou muito nesse acolhimento, tanto das professoras, como comigo da gestão.” A diretora conta que Luiz Gebara, profissional especializado em mindfulness (atenção plena) convidado para participar, mostrou a importância de professores estarem conectados conectarem-se a si mesmos, e terem um olhar respeitoso para si. Esse processo de fortalecimento do profissional acaba refletido no trabalho com os estudantes.

Próximos passos

A vivência de acolhimento ao longo de 2020 permitiu que Rosamaria já levantasse algumas hipóteses sobre o que será necessário ao longo de 2021, no sentido de continuar o processo de acolher os docentes. Um movimento que a escola já realizou foi contabilizar todos os materiais enviados pela prefeitura – como máscaras para adultos e crianças, além de copos individuais –, e também realizar a compra de outros. A ideia é apresentar o levantamento aos docentes quando voltarem à escola, com o objetivo de deixá-los mais seguros quanto aos protocolos sanitários. Também está na lista de afazeres um mapeamento sobre as atividades realizadas no ano passado que podem ser desenvolvidas novamente em 2021. “Não é como se 2020 fosse um livro que acabou e fechamos. Há materiais riquíssimos que os professores elaboraram, então não precisarão fazer tudo do zero novamente.”

Ela também reforça que 2021 irá requerer maior flexibilidade por parte dos professores, que voltarão à escola em um modelo diferente do qual estão habituados: com turmas reduzidas, protocolos a obedecer, entre outros fatores.

Fonte: Vivescer

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