Lúcia Puglia fez um ano de cursinho depois de deixar a rede pública. Na rede estadual, aproveitou oportunidade para cursar línguas, mas viu déficit no ensino de exatas.
Por Luiza Tenente Do G1

Lúcia Puglia, de 18 anos, foi aprovada em 1º lugar dentre os cotistas de escola pública para o curso de relações internacionais na Universidade de São Paulo (USP), por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Ela conta que saiu de um colégio particular no fim do ensino fundamental, porque não suportava mais ouvir comentários maldosos sobre seus cabelos cacheados. Queria um ambiente mais plural e diverso. E foi no colégio estadual que o encontrou: aprendeu quatro idiomas, participou de grêmio estudantil e organizou movimentos feministas.
“Não havia qualquer espaço de respeito às diferenças na escola privada. Eu precisava sair daquele lugar tóxico. Além de implicarem com o meu cabelo, também ficavam me provocando porque eu era estudiosa”, conta.
“Mas quando eu dizia para as pessoas que queria estudar em um colégio público, muita gente falava que seria péssimo.”
Mesmo assim, a jovem matriculou-se em uma instituição de ensino estadual no Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo. Sentiu que teria uma defasagem grande em relação aos conteúdos de exatas: as aulas de física e química eram fracas, sem exemplos práticos.
“Precisei então usar todo o meu tempo para procurar os benefícios dali. Descobri que qualquer aluno poderia fazer cursos gratuitos de idiomas no Centro de Estudo de Línguas (CEL). Então, estudei espanhol, francês, alemão e inglês sem pagar nada”, diz.
Lúcia também entrou para o grêmio estudantil e lutou por uma série de mudanças: ventiladores nas salas de aula, diálogo entre professores e diretores e novos programas culturais no colégio, como saraus e campeonatos esportivos.

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Objetivo: entrar na faculdade
O investimento em idiomas tinha uma razão específica: o sonho de Lúcia é estudar relações internacionais e seguir a carreira diplomática. Quando terminou o ensino médio, ela fez um ano de cursinho, em 2017, com uma parcela de bolsa, para tentar uma vaga na Universidade de São Paulo. “O dinheiro que meus pais economizaram quando estudei na escola pública foi usado para pagar o que a bolsa não cobriu”, diz.
No Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2018, quatro vagas dessa graduação, no período noturno, estavam reservadas para estudantes que fizeram o ensino médio inteiro em escola pública. Lúcia ocupou a primeira posição, com 732,39 pontos.
Sobre as críticas ao sistema de cotas, a jovem diz que ainda não é possível que um aluno de escola pública dispute uma vaga com um de particular. “A gente está suprindo a defasagem, mas só quem é preconceituoso não sabe a diferença entre as duas escolas. Infelizmente, ainda vai demorar muito para estarem todas no mesmo nível”.