Arnaldo Xavier

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Poeta e teatrólogo, Arnaldo Xavier nasceu em Campina Grande-PB, em 19 de novembro 1948. Jovem ainda migrou para São Paulo como inúmeros outros de sua geração. Estreou na poesia aos vinte e cinco anos, na série Violão de Rua, publicada, no início da década de 60, pelo CPC – Centro Popular de Cultura – da UNE. Mais tarde, envereda pelo experimentalismo oriundo da Poesia Concreta e demais correntes vanguardistas e produz uma poesia em diálogo com as artes visuais, numa poética de trânsitos intersemióticos. Radicado em São Paulo, fez parte do “Grupo Pindahyba” que, composto pelos poetas Aristides Klafke, Souza Lopes e Roniwalter Jatobá, era responsável pela editora de mesmo nome. Nos anos 80, participou dos encontros de escritores negros brasileiros e publicou em diversas antologias, inclusive no exterior.

Em seu ensaio-manifesto expressão literária negra”, apresentado no I Encontro de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros, realizado em São Paulo nos dias 6, 7 e 8 de setembro de 1985, e publicado no ano seguinte, Arnaldo Xavier assume uma postura polêmica, inclusive confrontando diretamente três expoentes da geração anterior – Oswaldo de Camargo, Paulo Colina e Abelardo Rodrigues – a fim de renegar a herança modernista a que estariam vinculados. Ao advogar a construção de uma expressão literária genuinamente negra, Xavier ataca o conceito de cultura brasileira, a seu ver comprometido com a absorção de padrões europeus e com o permanente apagamento dos negros e de sua contribuição, no âmbito do processo homogeneizador de configuração da unidade nacional. Após afirmar que a literatura brasileira, “marcada pela índole branca” (apesar de ter em Machado de Assis “seu grande momento”), “vive profunda crise (…) não só de criatividade, mas principalmente de impopularidade”, advoga a “contraposição estética” e a “ traição de todos os sentidos de brasilidade”, a partir do que denomina “Coexistência Crítica a esboçar a busca de uma caminho independente, uma opção ideológica, um projeto político-cultural, baseados numa autonomia do pensamento (1986: 90- 5). Renega igualmente o “discurso do autoflagelo” e acrescenta:

Dados biográficos

“A necessidade de uma manifestação contra-estilística, nascida de um posicionamento político a partir da reflexão de onde emprestamos: A Natureza do conteúdo. A Estrutura Formal. A Compleição Rítmica. A Disposição Repertorial. As nuances da Narrativa. A Delineação de personagens. A construção silogística & A Chave de Ouro do poema.

(…)
O Negro não é feio nem Bonito. O Negro contraria pelo Seu Não- Alinhamento. Pela sua Não-Permissão. O Negro contraria e esta contrariedade é a expressão de incorrespondência às significações adversas manifestadas pelo mundo branco.
(…)
Hum tempo novo exige uma nova linguagem. E que esta Linguagem seja exatamente o sentido )quizilista(, o gesto (xangótico), a sugestão )ebólica(, a careta (quilombística), a escrita )exusíaca( que o corpo do negro aponta de forma própria irreversível.” (1986: 96)

Em seu texto ensaio-manifesto, Arnaldo Xavier vale-se da teorização bakhtiniana a respeito do caráter semiótico da ideologia para destacar que a “multiconografia Negra – inclusive responsável pela mudança de rota da pintura moderna, com correspondentes repercussões na literatura, no teatro e no cinema – não tem ressoado nos textos Negros”. E conclui defendendo “a possibilidade de uma expressão que, ao mesmo tempo que combata o racismo, desencadeie um processo de conscientização que transcenda a frieza naturalista e contemplativa incapaz de se perceber dentro da realidade com seus avanços e recuos.” (1986: 96-7).

Ao comentar a poesia do autor paraibano, Oswaldo de Camargo (1987), destaca que o ponto alto da produção do autor encontra-se nos poemas integrantes da antologia Contramão, que vem a público em 1978, acrescentando que “a sua transição de poemas como ‘São Pálido’ para os de Rosa da recvsa, livro solitário de Arnaldo, não revelou ter o poeta percorrido o caminho de conseguir falar negro-poeticamente com os grafismos e signos até os momentos escolhidos”.

Arnaldo Xavier faleceu prematuramente em 2004.

Referências Bibliográficas

ALVES, Miriam, CUTI, Luiz Silva, XAVIER, Arnaldo (Orgs.). Criação crioula, nu elefante branco. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura / Imprensa Oficial, 1986.
CAMARGO, Oswaldo de. O negro escrito. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1987.

 

 

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