Artigo critica posts racistas ligados ao ebola

Texto publicado pelo Diário do Centro do Mundo reproduz manifestações publicadas no Twitter e no Facebook, como a que diz que “graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente”. O autor do artigo, Marcos Sacramento, afirma que “a possibilidade da entrada do vírus do ebola no Brasil inflamou o humor de pessoas contaminadas pelo racismo endêmico”. E conclui: “Ainda não queimaram um negro com ebola na fogueira. Ainda”

“Ebola… tinha que ser culpa dos pretos”. “Já tinha medo de negros imagina agora com isso de ebola”. “Não que eu seja racista, mas eu acho que esse NEGRO que tá com ebola, lá no Rio de Janeiro, deveria ser sacrificado. Vale ressaltar quanto uma atitude é para o benefício da maioria, não é considerado uma atitude anti-ética”. “Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente”. Esses são apenas alguns exemplos de opiniões propaladas pelo Twitter e Facebook e reproduzidas pelo jornalista Marcos Sacramento, em artigo publicado pelo Diário do Centro do Mundo. “A possibilidade da entrada do vírus do ebola no Brasil inflamou o humor de pessoas contaminadas pelo racismo endêmico. (…) Associar certos grupos sociais ou étnicos à propagação de moléstias é coisa antiga. (…) Hoje a ciência consegue explicar a origem da maioria das doenças. Mesmo assim muita gente ainda está com a cabeça enfiada nos buracos mais ignaros do passado”. O autor do texto demonstra ainda preocupação em relação às manifestações de ódio e preconceito associando a doença a negros ou africanos. “Ainda não queimaram um negro com ebola na fogueira. Ainda”.

 

Por *Marcos Sacramento, para o Diário do Centro do Mundo

O que falta para queimarem um negro com ebola na fogueira?

A possibilidade da entrada do vírus do ebola no Brasil inflamou o humor de pessoas contaminadas pelo racismo endêmico.

Por meio das redes sociais, proliferaram manifestações de ódio e preconceito associando a doença a negros ou africanos.

A virulência das postagens no Twitter e Facebook revela que há muita gente por aí precisando de tratamento de choque contra ideias discriminatórias. E ajuda a entender o sucesso eleitoral de sicários como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano:

“Não que eu seja racista, mas eu acho que esse NEGRO que tá com ebola, la no Rio de Janeiro deveria ser sacrificado. Vale ressaltar quanto uma atitude é para o benefício da maioria, não é considerado uma atitude anti-ética”.

“Alguém me diz por que que esses pretos da África têm que vir para o Brasil com essa desgraça de bactéria de ebola”.

“Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente”

“Já tinha medo de negros imagina agora com isso de ebola”.

“Ebola… tinha que ser culpa dos pretos”.

“Esses pretos ficam trazendo ebola pro brasil, não é preconceito mas tá trazendo caralho”.

As postagens foram reproduzidas com grafia original.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, condenou estas postagens. “Manifestações racistas são inaceitáveis em um país que se diz civilizado como o nosso. Temos que repudiar. É inaceitável que alguns brasileiros aproveitem esse momento para colocar sua raiva, seu ódio e suas manifestações racistas para fora”

Associar certos grupos sociais ou étnicos à propagação de moléstias é coisa antiga. O surgimento da Aids, no início dos anos 80, exacerbou o preconceito contra homossexuais.

Na Idade Média, judeus foram culpados pela Peste Negra – epidemia que assolou a Europa no século XIV. Naquela época as agressões eram físicas e muitas comunidades judaicas foram dissolvidas. Lamentável, embora relativamente compreensível em vista da mentalidade supersticiosa da época, que formava o ambiente perfeito para a disseminação de ideias esdrúxulas.

Hoje a ciência consegue explicar a origem da maioria das doenças. Mesmo assim muita gente ainda está com a cabeça enfiada nos buracos mais ignaros do passado. O mais trágico disso tudo é que eles usam uma invenção tecnológica para espalhar seus preconceitos medievais mundo afora.

Ainda não queimaram um negro com ebola na fogueira. Ainda.

Fonte: Brasil247

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