Artista cria ‘Simpsons negros’ contra racismo nos EUA

Um artista italiano recriou personagens do desenho Os Simpsons, símbolo da cultura pop norte-americana, para trazer atenção internacional a supostos episódios recentes de racismo nos Estados Unidos.

Por Ricardo Senra, do BBC

Na série de obras publicadas no Facebook pelo chargista Alexsandro Palombo, a pele amarela de Homer, Bart, Marge, Lisa e Maggie Simpson ganha tonalidade mais escura. As tiras trazem mensagens como “Pare com o racismo”, “Justiça” e “Policiais nunca dormem”.

Uma das sequências mais comentadas retrata Bart Simpson fugindo de um policial armado e depois morto sobre um gramado.

As ilustrações fazem referência à morte de Walter Scott, um homem negro de 50 anos, morto pelas costas por um policial branco na Carolina do Sul, no início de abril. Também remetem à morte do garoto Tamir Rice, de 12 anos, baleado em Cleevland, em novembro passado, quando brincava com uma pistola de brinquedo.

Sobre direitos autorais, artista diz captar "personagens em uma maneira totalmente diferente e nova. São visões minhas, arte contemporânea, então não há irregularidade legal"
Sobre direitos autorais, artista diz captar “personagens em uma maneira totalmente diferente e nova. São visões minhas, arte contemporânea, então não há irregularidade legal”

“Esta série visa denunciar acontecimentos raciais inacreditáveis que ocorreram recentemente”, diz o artista, que vive em Milão, ao #SalaSocial. “Estamos vivendo um perigoso retrocesso e, se os Estados Unidos não reagirem ao racismo, não serão mais o país da liberdade e dos sonhos, mas o país da opressão e da injustiça.”

‘I can’t breathe’

Além dos casos Scott e Rice, as imagens também reconstroem a morte de Erick Garner, de 43 anos, assassinado em julho do ano passado. Contido por um policial na rua, sob suspeita de vender cigarros ilegalmente, ele era asmático e não resistiu a um “mata leão”.

Garner gritou: “Não consigo respirar” pelo menos duas vezes, de acordo com relatos. Morreu no hospital.

Sobre direitos autorais, artista diz captar "personagens em uma maneira totalmente diferente e nova. São visões minhas, arte contemporânea, então não há irregularidade legal"
Sobre direitos autorais, artista diz captar “personagens em uma maneira totalmente diferente e nova. São visões minhas, arte contemporânea, então não há irregularidade legal”

Em frente a uma estátua da Liberdade coberta por uma máscara cônica da Ku Klux Klan, a família Simpson é retrada com as bocas cobertas pela mensagem “Não consigo respirar” – a frase também foi mote de uma intensa campanha nas ruas e nas redes sociais após a morte de Garner.

Os Simpsons são um símbolo norte-americano exatamente como a estátua. Eu quis colocá-los juntos para expor as contradições da América Moderna e seus problemas raciais”, diz o artista italiano. “As imagens da morte de Scott e do sufocamento de Garner são horríveis, incivilizadas. Isso é uma violência louca, inaceitável.”

Questionado sobre riscos de enfrentar processos legais pela apropriação dos traços dos Simpsons, Alexsandro diz que diz que o uso de figuras icônicas “é parte de sua linguagem artística”.

“Eu capto estes personagens em uma maneira totalmente diferente e nova. São visões minhas, arte contemporânea, então não há irregularidade legal”, afirma.

Contido por um policial na rua, Garner era asmático e não resistiu a um "mata leão".
Contido por um policial na rua, Garner era asmático e não resistiu a um “mata leão”.

O artista diz ao #SalaSocial “conhecer bem” a realidade brasileira.

Brasil

“Acho que o Brasil deveria dar mais atenção ao problema do racismo”, afirma Alexsandro. “As pessoas são fortemente discriminadas e vítimas de preconceito. Há muitas diferenças no estrato econômico e social”, afirma.

Ciente das semelhanças entre os dois países – há menos de um mês o menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, morreu baleado em um tiroteio no complexo do Alemão, no Rio de Janeiro -, ele sugere que pode vir a criar uma série de ilustrações baseadas na realidade brasileira.

“Vocês ficarão sabendo assim que algo nesse sentido surgir”, diz.

Do total de 56.337 homicídios registrados no Brasil em 2012, segundo o estudo Mapa da Violência, 57,6% tiveram com vítimas jovens com idade entre 15 a 29 anos – 77% deles eram negros.

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