Aumentou número de crimes de ódio nos EUA, diz FBI

Por João Ozorio de Melo

Adicione a crimes tradicionais, como intimidação, vandalismo, agressão, estupro e assassinato, uma alta dose de preconceitos. O resultado é “uma mistura tóxica, que contamina nossas comunidades”, diz o FBI em um relatório que divulgou na segunda-feira (14/11), em seu site, sobre crimes de ódio.

As estatísticas do FBI mostram que foram registrados 6.628 casos de crime de ódio relatados em 2010. Em 2009, foram 6.604. O aumento de pouco mais de 3,6% pode parecer pequeno, mas não é para quem espera uma redução do que constitui “um fato triste da história americana”, diz o FBI.

Foram 8.208 vítimas de crime de ódio em 2010: 48,2% por preconceito racial, 18,9% por preconceito religioso, 18,6% contra pessoas com orientações sexuais particulares, 13,7% contra estrangeiros ou pessoas de outras origens étnicas e 0,6% contra pessoas com deficiência física ou mental.

Entre as 1.122 vítimas de crimes de ódio por preconceito contra pessoas de outras nacionalidades, cerca de dois terços (66,6%) foram de latinos; 33,4% das vítimas restantes foram de diversas outras origens étnicas. O alto percentual de vítimas de origem latina foi naturalmente o destaque das reportagens alarmadas das publicações hispânicas dos EUA.

Também foi destaque o fato de que 48 crimes foram motivados pelo ódio que os agressores sentem contra pessoas com deficiências: 24 vítimas sofriam de deficiência mental e outras 24, de deficiência física.

Entre as 3.949 vítimas de crime por preconceito racial, 70% eram negras; 17,7%, brancas; 5,1%, ilhéus (do Pacífico Asiático); 1,2%, indígenas e naturais do Alasca; e 6% eram de mais de uma raça.

Foram 1.522 vítimas de preconceito religioso, das quais: 67% eram judeus; 12,7%, muçulmanos; 4,2%, católicos; 3%, protestantes; 0,5%, ateus ou agnósticos; 9,1%, de outras religiões; e 3,5% contra pessoas com múltiplas religiões.

Entre as 1.528 vítimas por orientação sexual, 57,3% foram atacadas porque eram homens homossexuais; 27,5% porque eram homossexuais; 11,8% porque eram mulheres homossexuais; 1,4% porque eram heterossexuais; e 1,9% porque eram bissexuais.

Os casos apresentados no relatório foram 6.628, mas os agressores foram enquadrados em 7.699 crimes de ódio, dos quais: 4.824 foram contra pessoas; 2.861 contra propriedades (dos quais, 81,1% foram casos de vandalismo, destruição ou danos, motivados por preconceito) e 14 contra a sociedade.

Entre os agressores, 3.176 (58,6%) eram brancos; 905 (18,4%), negros; 238 (8,9%), de mais de uma raça; 61 (1,1%), ilhéus (do Pacífico Asiático); 52 (1%) indígenas ou nativos do Alaska; e 597 (12%), de raça não relatada. Mas 2.670 agressores não foram identificados.

A “história triste”

O FBI informa, em seu relatório, que combate crimes de ódio nos Estados Unidos desde a Primeira Guerra Mundial. Foi a época em que a organização racista Ku Klux Klan (abreviada KKK e também chamada de “the Klan”) se tornou ativa no país e passou a ser investigada pelo FBI. Mas, segundo o FBI, a expressão “crime de ódio” só passou a fazer parte do vocabulário americano na década de 80, quando os “Skinheads” promoveram uma onda de crimes motivados por preconceitos raciais.

Segundo a Wikipédia, o nome Ku Klux Klan veio da combinação da palavra inglesa “clan” (clã, tribo, “família”, “panelinha”) com a palavra grega “kuklos” (círculo) e significa, para seus fundadores, “Circle of Brothers” (círculo de irmãos). A “organização terrorista” foi fundada em 1865, no Tennesssee, por veteranos do Exército Confederado, para perseguir negros liberados da escravidão e manter a supremacia branca. Os esquadrões paramilitares se disseminaram pelo Sul do país. A organização, conhecida como Primeira KKK, se enfraqueceu por volta de 1877, quando os democratas assumiram a maioria dos governos dos estados do Sul do país.

Em 1915, ela renasceu na Geórgia, também no Sul dos EUA. Em 1921, adotou um sistema empresarial moderno de recrutamento e se espalhou por todo o país. Era um tempo de prosperidade, de tensões sociais decorrentes da industrialização. A segunda KKK pregou o americanismo e praticou o racismo, o anticatolicismo, o anticomunismo, o nativismo (preferência dos americanos sobre os imigrantes) e o antissemitismo e a violência contra os desafetos. Foi a que teve mais membros (de 4 a 5 milhões), mas praticamente de desfez na década de 40.

Nas décadas de 50 e 60, apareceu a Terceira KKK, para se opor a movimentos de direitos civis e a dessegração (movimento que buscava acabar com a segregação racial ou separação das raças) nos EUA. Fizeram alianças com departamentos de polícia e governos de estado no Sul. Vários membros da KKK foram presos por assassinato de líderes dos direitos civis. A organização ainda existe e os estudiosos acreditam que ela tem cerca de 150 capítulos nos pais e mais de 5 mil membros.

Hoje, os grupos também se apresentam como defensores da “white supremacy” (supremacia branca), “white nacionalism” (nacionalismo branco) e movimentos “anti-immigration” (anti-imigratórios). A KKK tem um website (www.kkk.com) com o subtítulo de “The Knights Party, USA” (Partido dos Cavalheiros), que se dedica a combater “a perseguição contra os brancos”. O movimento “supremacia branca” tem vários. Defende exatamente a ideia de que a raça branca é superior as outras raças e tem uma tendência de combater diáspora judaica que, segundo eles, são responsáveis por quase todas as mazelas dos EUA e do mundo.

O movimento skinhead, por sua vez, não é uma criação americana. Nasceu no Reino Unido, nos anos 60, como uma “subcultura” adotada por jovens da classe trabalhadora, de cabeças raspadas, e se espalhou pelo mundo. Mas os grupos passaram a se identificar com facções da supremacia branca ou do nacionalismo branco e se tornaram racistas. Nos Estados Unidos, foram aceitos pela Ku Klux Klan e outros grupos organizados de ódio, como Igreja do Criador e Resistência Ariana Branca, passando a ser identificados como grupos neonazistas.

Fonte: Conjur

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