Linda Burney, uma antiga professora, conquistou um assento na Câmara dos Representantes, pelo Partido Trabalhista
Por Mafalda Ganhão Do Expresso
Linda Burney, uma antiga professora, entrou para a história da política australiana ao tornar-se na primeira mulher indígena a ser eleita para a câmara baixa do parlamento, conquistando um assento na Câmara dos Representantes pelo Partido Trabalhista nas eleições legislativas.
Esta é a segunda vez que Linda, de 59 anos, rompe barreiras, depois de em 2003 ter sido pioneira também, como a primeira mulher aborígene a entrar para o parlamento do estado de Nova Gales do Sul.
Além da dimensão política, a sua história pessoal representa o triunfo das capacidades de trabalho e de superação.
Nascida em Whitton, uma pequena localidade na região agrícola de Riverina, no estado que agora representa, Linda Burney foi fruto da relação mantida pelo pai, Nonnie Ingram, – que tinha origem Wiradjuri e era um cantor de folclore – com uma mulher branca. Abandonada pela mãe ainda na maternidade, acabou por ser criada por uma tia avó e por um tio, a quem já agradeceu publicamente os valores recebidos, de “honestidade, lealdade e respeito”.
Linda tinha já 27 anos quando conheceu o pai, momento que partilhou no seu discurso de apresentação no parlamento de Nova Gales do Sul. “Cresci sem conhecer a minha família aborígene. E quando conheci o meu pai, em 1984, as primeiras palavras que me disse foram ‘espero não te dececionar’. Conheci depois 10 irmãos e irmãs, que viviam a apenas 40 minutos de distância. Era este o poder do racismo e da negação, tão dominantes nos anos de 1950”, recordou.
O ensino marcou o início da sua carreira profissional, em 1979, numa escola em Sidney. Poucos anos depois estava já envolvida no desenvolvimento e implementação de uma política educativa para a comunidade aborígene.
A vida voltou a ser-lhe dura em 2006, quando perdeu o companheiro, Rick Farley, pai dos seus dois filhos, e, à época, presidente da Federação Nacional de Agricultores.
“Fiquei devastada e pensei que nunca conseguiria recuperar”, afirmou recentemente, até que “num momento de luz percebi que tinha duas opções: deixar que o sucedido me destruísse ou fazer desse acontecimento um ponto de viragem, para me tornar uma pessoa melhor e com mais compaixão”.
Linda escolheu a segunda hipótese, dedicando-se com afinco a uma das suas prioridades de sempre – a educação.
It’s an honour to be the first Indigenous woman in Federal Parliament. Thanks for all your support #ausvotespic.twitter.com/Wi3Rix1b0Z
— Linda Burney MP (@LindaBurneyMP) July 2, 2016
Agora que se junta na Câmara dos Representantes ao primeiro deputado aborígene, Ken Wyatt, – eleito em 2010, pelo Partido Liberal – Linda Burney confessa estar a ganhar consciência da importância do papel que a espera.
“Julgo que é um momento realmente muito importante para a Austrália”, disse ao canal de televisão ABC, depois de conquistar o assento por Barton, Sydney.
“Recebi mensagens de felicitação de pessoas a viver na Alemanha, em Israel, de amigos nos Estados Unidos e outros amigos meus tinham mensagem para me transmitir da Suíça e Londres. Tem sido lindo”, acrescentou.
A contagem dos votos das eleições, que se realizaram na sexta-feira, deverá estar terminada na terça-feira. Os resultados parciais dão vantagem aos trabalhistas, até agora na oposição.