Conhecido pela valorização das tradições vindas da África como a capoeira, o acarajé, o Candomblé, a Bahia é um dos lugares de maior concentração de afrodescendentes brasileiros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o estado tem a segunda maior população negra do Brasil, empatado com o Maranhão, ambos com 76,2%, e atrás do Pará, que tem 76,7%.
Embora seja o segundo em números, a Bahia é o primeiro onde as pessoas mais se autodenominam pretas, como o IBGE especifica. Em 2008, o Mapa da Distribuição Espacial da População, também do IBGE, revelou que os baianos que declaram ter a pele preta representam 13% da população e os pardos são 60,1%.
O número de população de cor preta autodeclarada na Bahia é o dobro do Brasil, que registrou 6,2 % de pretos e 38,5% de pardos. O índice é maior, também, do que o Nordeste, que tem 7,7% de pretos e 58% de pardos. A capital do estado, Salvador, é a cidade com maior população declarada preta ou parda do país, com 743,7 mil pessoas
Contradições
Apesar de se reconhecer como tal e ser a grande maioria, as condições de vida e as oportunidades não são as mesmas para a população negra. Um levantamento também feito pelo IBGE, em 2011, mostrou que, em Salvador, os brancos ganham até 3,2 vezes a mais do que o negro.
“A Bahia é maioria, mas os negros estão apartados do poder e compõem os espaços mais precarizados. Não há uma inclusão real. Somos uma maioria sob o jugo de uma minoria que detém o jugo do poder eco e político”, defendeu a vereadora Olívia Santana, que há mais de 20 anos milita no movimento negro.
Olívia acredita que o principal motivo das diferenças étnicas ainda persistirem no estado é a falta de criticidade da população e o pouco engajamento político. “A mudança se fará na medida em que a população tomar consciência dessa diferença brutal. Isso a gente resolve com luta política”, acrescenta.
20 de novembro
Marcado com um dia da luta do povo negro, o 20 de novembro é celebrado na Bahia com uma programação que dura todo o mês, batizada de “Novembro Negro”. Olívia credita que a data é mais importante do que o 13 de maio, que lembra a abolição da escravatura.
“O 13 de maio é limitado. Para nós, o 20 de novembro representa as nossas conquistas e a renovação da nossa luta. A nossa luta é pacífica, para o fim da desigualdade. A cor da pele não pode ser passaporte para uns e barreiras para outros”, disse Olivia
O 20 de novembro coincide com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra à escravidão, em 1965, e é celebrado desde a década de 1960, mas só ganhou notoriedade recentemente.
De Salvador,
Erikson Walla
Fonte: Vermelho