Por: Edson França *
O Dia Nacional da Consciência Negra é uma construção sócio-política do movimento negro brasileiro, cujo objetivo foi superar uma imprecisa narrativa da classe dominante e do Estado sobre um processo histórico, político e econômico que alijou durante 388 anos a população negra. Por isso é um instrumento ideológico e político para ser utilizado na luta para superação do racismo e de seus desdobramentos sobre a vida de 50,6% da população brasileira.
O movimento negro ao apropriar-se da dos feitos de Zumbi dos Palmares, mais popular herói da nacionalidade e símbolo de luta e da liberdade para todos brasileiros, rememora, protesta, denuncia e propõe medidas sempre com vista a desobstruir os entraves que impedem o desenvolvimento e a ascensão social dos negros no Brasil. Defender o Dia Nacional da Consciência Negra da sanha oficialista e folclorizante do Estado está na ordem do dia, considero que estão subvertendo o sentido emancipatório contido nos objetivos da consciência negra.
Dei início ao texto apresentando a polêmica central porque não dá pra admitir que no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, um governo responsável pelo maior índice de assassinatos de jovens negro da história do estado de São Paulo vai a um logradouro público denominado “Parque da Juventude” comemorar seus feitos e enganar o povo com um mega show para milhares de pessoas, enquanto o movimento social negro, sob forte chuva, clama pelo respeito à integridade da vida ceifada pelas balas da polícia e do crime, ou seja, o algoz fica com a massa para desinformá-la.
Um governo responsável pelo registro de 3.536 mortes somente no ano de 2012, sendo 96% a mais do registrado em 2011, segundo dados oficiais do próprio governo, deve ser processado por crime de responsabilidade. Alckmin rompeu com a lógica do pão e circo dos ditadores da Roma Antiga, sua consigna, apesar de inconfessa é praticada: chumbo e circo.
Outro costumeiro e mau uso do dia 20 de novembro pelos governos Brasil afora é para justificar a inoperância dos órgãos e das políticas de igualdade racial. Pouco ou nada deixam fazer de concreto para promoção social da população negra, contingenciam agressivamente o orçamento da igualdade racial conforme denúncia do INESC e usam o dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra para se apresentar palatalmente para a sociedade civil.
Chamo atenção do movimento negro em todo país a se atentar ao protagonismo do Dia da Consciência Negra, não podemos permitir que o Estado transforme o dia 20 de novembro em oportunidade para alienação e despolitização do povo, recuperando as comemorações festejos que havia em 13 de maio. O Dia Nacional da Consciência Negra é para a luta. Exemplos como os trabalhadores no 1º de maio, das mulheres no dia 08 de março, do movimento LGBT no dia 28 de junho, que assumem todas as ações políticas para divulgar suas bandeiras, pressionar governantes e dialogar com a base social, são referências consolidadas de ação de massa que o movimento precisa adotar, cabendo o Estado, no máximo, apoiar essas iniciativas.
Fonte: Vermelho