Balaio de Ideias: Não dá para ser mais ou menos a favor da vida

Em defesa da vida! Esse é um dos primeiros argumentos utilizados pelas pessoas e grupos que se posicionam contra a legalização do aborto no país. Sim, é importante defender o direito a vida e assegurar que todas as pessoas tenham, de fato, a condição de manter-se vivo.

Por Maíra Azevedo Do Mundo Afro

A cada dois dias, uma brasileira (pobre e ouso afirmar que seja também negra) morre por ter sido submetida a um aborto inseguro. Esse sim, um problema de saúde pública associado à criminalização da interrupção da gravidez e à violação dos direitos da mulher. São elas que são culpadas e responsabilizadas cada vez que um aborto é realizado. O nome dos seus parceiros, dos pais das crianças, não entram no processo. Por isso, criminalizar o aborto é condenar essas mulheres várias vezes, que já sofrem com o abandono dos homens, pelo atendimento nos hospitais públicos, pelo preconceito instaurado e pela dor de ter que escolher pela vida.

Outra situação que merece ser desmistificada é que nem todo aborto clandestino é inseguro. Existem clínicas especializadas em interromper gravidez instaladas em bairros nobres, que cobram caro pelos seus “serviços”. Afinal, fazem o procedimento com todas as condições de higiene, por médicos treinados, basta a mulher ter dinheiro para pagar. O aborto inseguro é aquele realizado sem nenhum tipo de higiene ou condição necessária, muitas vezes em locais insalubres. E é aí que novamente condenamos apenas as mulheres pobres.

E depois de condenar as mulheres pela prática do aborto, é chegado o momento de negar o direito de se manter vivo aos seus filhos. É no mínimo contraditório defender o direito de nascer e em seguida matar a nossa juventude. Sim, matam nossa juventude cotidianamente, eliminam-se talentos,quando se defende a redução da maioridade penal ou se cala diante ao genocídio da juventude negra.

É preciso ter coerência, defender um Estado que assegure todos os direitos. Acesso a saúde pública, a segurança, educação, cultura, lazer. Não se pode ser mais ou menos a favor da vida.

 

+ sobre o tema

Número de mortes causadas pela PM cresce 57% em SP

  Os casos das chamadas "resistências seguidas de...

Após anos morando nas ruas de Chapada dos Guimarães, Bruno Martins Pereira tem, enfim, sua verdadeira história descoberta

  Investigação psicossocial aponta que ‘‘Universo‘‘, o morador...

Precisamos ouvir histórias de aborto

Débora Diniz fala sobre sua experiência na campanha ‘Eu...

para lembrar

Sensacionalismo fora do ar

Por: Enderson Araújo Vamos dar prosseguimento a um Debate...

Coalizão de 48 empresas firma compromisso contra o racismo no ambiente de trabalho

Uma coalizão de 48 multinacionais, dentre as quais Microsoft,...

São Paulo: Obra parada da Nova Luz vira abrigo para centenas de usuários de crack

A antiga cracolândia voltou às origens, agora concentrada nos...
spot_imgspot_img

Campanha quer proteger crianças e adolescentes no carnaval

O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) lançou neste sábado (15), em Belo Horizonte (MG), a campanha “Pule, Brinque e Cuide – Unidos...

Geledés se aproxima da União Africana (UA)

O assessor internacional de Geledés, Gabriel Dantas foi convidado a participar como observador do evento de Pré-Lançamento do Tema da União Africana 2025, cuja...

Mutirão para trans e travestis oferece mais de 1 mil vagas de emprego

O Sindicato Paulista de Empresas de Contact Center (Sintelmark) promove nesta quarta-feira (12), em São Paulo, um mutirão de emprego para pessoas transexuais e...
-+=