Douglas, ex-participante do BBB (já que ontem foi eliminado da casa), declarou que se arrepende por ter esmurrado uma mulher em duas ocasiões, em uma delas deixando-a desacordada após a agressão. O rapaz ficou triste e se sentiu tolo por ter contado seu feito de agressão ao vivo e no fundo sabe que a forma como relatou tudo foi parte do que resultou em sua eliminação. Preocupado com as oportunidades perdidas aqui fora, disse que está tão arrependido que hoje é até “feminista”. Ora, que conveniência, não?
Por Jarid Arraes Do Revista Fórum
Não sou de assistir ou comentar sobre o Big Brother Brasil, principalmente porque o programa já demonstrou, em diversas edições, que só serve para promover misoginia, racismo, homofobia e outros tipos de discriminação. Tal qual a emissora responsável por sua exibição, o programa é uma bela porcaria. De fato, Douglas não é o primeiro e nem será o último misógino a ganhar espaço na televisão; por isso, convido os leitores a fazerem uma análise dessa “masculinidade” sem autocrítica que, quando confrontada, apela para as estratégias mais baixas.
O Feminismo tem tido seu momento de atenção: algumas pautas do movimento social viram manchetes na televisão e matérias de revistas da grande mídia. Mas a verdade é que o fenômeno de homens machistas se declarando feministas não é nenhuma novidade. São muitos os homens que agem de forma machista, ofendem mulheres com insultos machistas, usam paradigmas e clichês machistas, e só enxergam e representam mulheres de maneira objetificada e hipersexualizada. Mas, quando são confrontados, correm para afirmar que as feministas são exageradas e radicais, pois seriam eles defensores dos direitos das mulheres.
Acontece que a observação das atitudes e da “masculinidade” reproduzida por esses indivíduos é essencial. Ser feminista significa se propor a uma reflexão crítica a respeito do próprio comportamento machista; é impossível ser um homem feminista e não ler mulheres feministas, não ouvi-las e não levar em consideração o que dizem sobre o machismo que sofrem. O homem feminista deve se dispor a desconstruir a “masculinidade” que lhe foi ensinada pela sociedade. E deve ir além: precisa aprender a confrontar, em seu círculo de amizades e convívio social, aqueles comportamentos que são machistas.
Há muitos debates dentro do movimento feminista. O que é ótimo, porque estimula um esforço pela inclusão de todos os grupos de mulheres que são marginalizados e não se encaixam na equivocada ideia universal de mulher. Portanto, considero que homens feministas podem, sim, existir. E tais homens podem fazer grande diferença, sobretudo quando confrontam a misoginia de seus pais, irmãos, amigos e colegas de trabalho. Acredito em homens feministas que repudiam a desigualdade e que por isso se esforçam para combater o próprio machismo dentro de si.
As mulheres precisam lutar e levantar a voz contra a misoginia constantemente, mesmo quando sentem medo. Superam as mais difíceis barreiras sociais e institucionais para denunciar a violência que sofrem, encaram o deboche e o descrédito, aguentam as mais sórdidas ameaças e conquistam seus direitos. A verdade é que já conquistamos muita coisa com o movimento de mulheres – e somos boas nisso. Os homens que se identificam como feministas precisam abandonar as velhas reproduções sociais de gênero, onde homens tomam lideranças, espaços e vozes e se sentem injustiçados quando algo não é sobre eles.
Sim, o Feminismo também toca os homens. Também lhes traz coisas boas e afrouxa os rígidos padrões de “masculinidade”. Mas a parte que lhes toca não implica somente em benefícios, antes de tudo deve implicar em compromisso real de aniquilação do machismo. Por isso, “feministas” como Douglas – que são muitos, infelizmente – podem até tentar ludibriar algumas pessoas, mas suas atitudes violentas e a mentalidade que objetifica a mulher é facilmente identificada pelas feministas. E, como a história prova, as feministas não ficarão caladas diante disso.