Em 2014, foram registrados 777 casos de estupro em 2014
Do R7
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal divulgou um estudo onde revela que, em todo DF, foram registrados 777 casos de estupro em 2014. Segundo o órgão, só em janeiro deste ano, a polícia já registrou 42 ocorrências – o que significa que houve, praticamente, um estupro por dia na cidade.
Uma garota de 19 anos, que prefere não ser identificada, conta que perdeu a infância dentro de sua própria casa vítima deste crime. Ela começou a ser abusada e violentada diariamente aos 12 anos pelo próprio pai. A menina conta que chegou a engravidar duas vezes e foi obrigada a abortar e se calar. Foram sete anos sentindo na pele a violência até que, um dia, resolveu denunciar o agressor.
— Ele esperava todo mundo dormir. Eu também dormia, mas eu já sabia que ia ser interrompida no meio da noite. Quando ele entrava no meu quarto e pegava na minha mão, eu já sabia o que era. Às vezes a gente fazia no quarto mesmo e às vezes ele me levava para a sala. Eu quero que ele pague por todo o meu sofrimento. Eu sofri mesmo, ele me maltratava tanto, não tinha dó de mim. Em nenhum momento ele me considerava como filha.
O pai da garota foi preso logo depois da denúncia e ainda é suspeito de ter estuprado a outra filha menor.
Atualmente, a Secretaria de Saúde possui 21 programas voltados para vítimas de violência sexual nos hospitais da rede pública. Em Brazlândia, o serviço ainda não está disponível. Os centros de atendimento à mulher funcionam na Asa Sul, Ceilândia e Planaltina. Por mês são atendidas 150 mulheres que, encorajadas, passaram a denúnciar seus agressores.
Para a Secretaria de Políticas para as Mulheres de Desigualdade Racial e de Direitos Humanos, Marise Ribeiro Nogueira, quebrar o tabu é essencial para dar um fim neste tipo de crime.
— Mais informação e dizer a essas mulheres que elas não estão sozinhas, que não se trata de um problema restrito do lar, que é um problema da sociedade, é importante para dizer que nós temos como apoiá-las e que podem encontrar ajuda nos aparelhos do Estado.
De acordo com o psicólogo Valmor Borges, o crime de estupro é um dos que deixam mais traumas. Segundo ele, as marcas não são visíveis, mas emocionalmente provocam danos que dependem de cuidados que podem durar o resto da vida.
— A baixa da auto estima é um fator evidente. A sensação de culpa, de carregar essa sensação de que ela foi de alguma maneira culpada ou facilitou em algum momento, a raiva, a sensação de impotência, tudo isso junta de uma maneira que deixa a pessoa completamente alterada. Guardar o segredo é uma das piores coisas que a pessoa que sofre a violência pode fazer, isso não deixa ela se livrar da culpa.