Belo Horizonte recebe o projeto Polifônica Negra na primeira semana de maio

Programação conta com apresentação de cenas curtas e mostras de processos criativos de artistas e grupos ligados à arte negra no país. Com entrada gratuita, as atividades ocuparão diferentes espaços da capital.

Por Fábio Gomides Do Segs

Entre os dias 3 e 7 de maio, de quarta-feira a domingo, a capital mineira recebe a Polifônica Negra. O evento contará com a participação de artistas cênicos contemporâneos de Belo Horizonte e de outras cidades do país apresentando cenas curtas e uma mostra de seus processos criativos, além de debates com temas ligados à criação da arte negra no Brasil. O Polifônica Negra é um projeto de Anderson Feliciano e Aline Vila Real. Toda a programação tem entrada gratuita. “Mantendo um diálogo que iniciamos em 2013 e buscando ampliá-lo através de novas provocações, a Polifônica Negra promoverá o encontro de artistas da capital mineira e de outras cidades – São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. O projeto foi pensado como um quilombo, tendo como um de seus pilares estabelecer um diálogo tenso, conflituoso e necessário em torno dos desafios de se pensar as estéticas negras na cena contemporânea e como essas produções contribuem para a ressignificação do imaginário social”, comentam Aline e Anderson.

No dia 3 de maio, quarta-feira, a Polifônica Negra dá início às suas atividades no Tambor Mineiro, com a abertura do encontro, às 20h. Em seguida, às 21h, será realizada a pré-estreia do novo espetáculo do Coletivo Negras Autoras, de Belo Horizonte, que conta com direção de Grace Passô. Encerrando o primeiro dia, a Polifônica Negra recebe o Bar da Tia Rosa, com a DJ Pat Manoese. Carregando influências da urban music, latinidades, africanidades, funk e brasilidades, o set da DJ Pat Manoese reflete muito da sua pesquisa que começou baseando-se na representação e no protagonismo das mulheres na música e que vem se ampliando com o propósito de conhecer e disseminar ritmos de diversos lugares do mundo.

Já no dia 4 de maio, quinta-feira, o Teatro Espanca! será palco de uma série de atividades, das 19h às 22h. Dando início à programação do dia, a atriz Mariana Nunes apresenta a cena “(in)visível”, composta por partes do livro “O Homem Invisível”, de Ralph Elisson, e por trechos de depoimentos de mulheres negras sobre sua invisibilidade. Mariana Nunes ouve tais vozes e as reproduz através de um fone de ouvido, dizendo exatamente o que estava ouvindo, simultaneamente à escuta. Em seguida, a Cia. Capulanas, de São Paulo, apresenta a vídeo-performance “A cama, o carma e o querer” – um experimento poético-videográfico concebido em 4 capítulos. O tema é o prazer pela perspectiva da mulher negra.

Encerrando a noite, o debate “Outros Modos de atuar os mesmos dramas” recebe o Coletivo Negras Autoras, Grace Passô, Mariana Nunes e Débora Marçal (Cia. Capulanas) sob mediação de Ana Maria Gonçalves e Soraya Martins. A escritora mineira Ana Maria Gonçalves tem duas grandes obras ligadas à temática da cultura negra e do preconceito racial – “Ao lado e à margem do que sentes por mim”, de 2002, e “Um defeito de cor”, lançado em 2006, ano em que foi vencedora do Prêmio Casa de Las Américas pelo trabalho. Além da literatura, escreveu os espetáculos teatrais “Tchau, querida”, em 2016, e “Chão de pequenos”, da Companhia Negra de Teatro, em 2017. Soraya Martins é atriz e mestre em Teoria da Literatura. É co-fundadora da Sofisticada Companhia de Teatro. Desde 2011, atua na cena mineira como atriz e pesquisadora do teatro afro-brasileiro e tem em seu currículo trabalhos realizados junto a diversas companhias, entre elas Companhia Candongas, Grupo do Beco e Caixa de Fósforos.

A programação do dia 5 de maio, sexta-feira, terá início na Praça Sete, às 17h30, com a performance “Panfleto Itinerante”, do grupo Selo Homens de Cor (SP), que leva para o espaço público o debate sobre o extermínio da juventude negra pelo Estado brasileiro. Após a performance, os atores e o público seguirão em trajeto até o Teatro Espanca!, que recebe programação entre 19h e 22h. A Companhia Brasileira de Teatro, do Paraná, apresenta a performance “O que ainda não sabemos” (projeto preto), que contará com a participação de Grace Passô, Nadja Naira, Felipe Soares, Rodrigo Bolzan e Marcio Abreu.

Em seguida, a Polifônica Negra recebe a apresentação de dois fragmentos de espetáculos: “Pai contra Mãe”, da Fusion Cia. de Danças, de Belo Horizonte; e “Co Ês”, de Rui Moreira, também da capital mineira. Em “Pai Contra Mãe”, sete corpos dançantes trazem ao palco os desafios de ser negro e de ser mulher em uma sociedade ainda desigual e opressora, inspirado no conto homônimo de Machado de Assis. Já “Co Ês” (com eles) é uma contação de histórias através dos gestos e da dança. Para a Polifônica, será apresentado um trecho deste espetáculo inspirado no arquétipo dos Ibeji – o protetor dos gêmeos na mitologia Iorubá. Fechando a programação do dia 5, o projeto realiza o debate “O Corpo que grita: Micropolíticas ruidosas”, com participação de Sidney Santiago (Selo Homens de Cor), Cia. Brasileira de Teatro, Rui Moreira e Fusion Cia. de Danças Urbanas, com provocações de Ana Maria Gonçalves, Renato Noguera e Soraya Martins. Renato Noguera é filósofo, pesquisador e professor da UFRRJ. Noguera trabalha com uma tendência na filosofia brasileira chamada Afroperspectividade, que busca formular conceitos recorrendo às tradições indígena, africana e afro-brasileira.

No dia 6 de maio, sábado, é a vez do Espaço LIRA, mantido pelo poeta Ricardo Aleixo, receber as atividades da Polifônica Negra, das 16h às 20h. A programação tem início com a apresentação da “Jazzê”, um encontro de Aleixo com o poeta paulista Allan da Rosa. Em “Jazzê”, os poetas sopram em roda versos e prosas de ninho, de arrepio e de sangue, inspirados na música e na ancestralidade negra. Em seguida, será feita a leitura do roteiro cinematográfico “Pare e Siga”, de Adyr Assumpção e Zora Santos, um roadmovie para um casal de atores negros. A Polifônica Negra também recebe a mostra de resultados do “Laboratório do Tropeço: experimentos para elaboração de uma poética da encruzilhada”, de Anderson Feliciano. A proposta do Laboratório do Tropeço é construída em duas etapas: encontros vivências e intervenções performáticas. Os encontros vivências buscam ampliar e aprofundar pesquisas relacionadas às temáticas raciais, estéticas descoloniais e ainda elaborar de forma sistemática propostas poéticas para a elaboração do que Anderson denomina como poéticas da encruzilhada. Para elaboração das intervenções performáticas o interesse é em pensar a “imagem em detrimento do diálogo”, criando uma proposta estética que amplie as percepções dos corpos negros habitando poeticamente os espaços elegidos com desejos de reconfigurá-los.

Ainda no dia 6, o Projeto Segunda Preta realiza duas apresentações de cenas teatrais. Finalizando a programação de sábado, o debate “O corpo como lugar de discurso: uma atividade primária de fabulação” recebe Adyr Assumpção, Anderson Feliciano, Allan da Rosa, Ricardo Aleixo, Grazi Medrado e Soraya Martins, com provocações de Ana Maria Gonçalves e Renato Noguera.

Encerrando a Polifônica Negra, Anderson Feliciano recebe os artistas participantes público na Residência dos Silva, no dia 7 de maio, domingo, de 12h às 20h. Como encerramento, o público será convidado para um “Ípàde”, que significa encontro em yoruba. Este último dia será um espaço de encontro para se comemorar. Construir um evento, cujo significado advém, em grande parte, da sua interação com a platéia, procurando refletir as esperanças, sonhos, sistemas de valores e padrões culturais do público. O Ípàde acontecerá no quintal da casa de Anderson Feliciano e será um momento de reflexão e celebração entre os artistas participantes desta edição.

A Polifônica Negra é apresentada pela Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte e realizada com recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura.

:: Programação ::

Dia 3 de maio, quarta-feira
20h – Abertura do encontro
21h – Pré-estreia novo espetáculo do Coletivo Negras Autoras (BH)
22h – Bar da Tia Rosa com DJ Pat Manoese
Local: Tambor Mineiro | Rua Ituiutaba, 339 – Prado

Ingressos disponíveis para retirada 01 hora antes do início. Sujeito à lotação do espaço.

Dia 4 de maio, quinta-feira
De 19h às 22h
– Apresentação da cena “(in)visível”, de Mariana Nunes (RJ)
– Apresentação da vídeo-performance “A cama, o carma e o querer”, Cia. Capulanas (SP)
– Debate com participação do Coletivo Negras Autoras, Grace Passô, Mariana Nunes, Débora Marçal (Capulanas), sob mediação de Ana Maria Gonçalves e Soraya Martins. Tema: Outros Modos de atuar os mesmos dramas.
Local: Teatro Espanca! | Rua Aarão Reis, 542 – Centro

Ingressos disponíveis para retirada 01 hora antes do início. Sujeito à lotação do espaço.

Dia 5 de maio, sexta-feira
17h30
– Apresentação da performance “Panfleto Itinerante”, do Selo Homens de Cor (SP)

Local: partindo da Praça Sete e seguindo trajeto até o Teatro Espanca!

Dia 5 de maio, sexta-feira
De 19h às 22h
– Apresentação da performance “O que ainda não sabemos” (projeto preto), da Cia Brasileira de Teatro (PR)
– Apresentação de fragmento do espetáculo “Pai contra Mãe”, da Fusion Cia. de Danças Urbanas (BH)
– Apresentação do fragmento do espetáculo “Co Ês”, de Rui Moreira (BH)
– Debate com participação de Sidney Santiago (Selo Homens de Cor), Cia. Brasileira de Teatro, Rui Moreira, Fusion Cia. de Danças Urbanas. Provocadores: Ana Maria Gonçalves, Renato Noguera e Soraya Martins. Tema: O Corpo que grita: Micropolíticas ruidosas.
Local: Teatro Espanca! Rua Aarão Reis, 542 – Centro

Ingressos disponíveis para retirada 01 hora antes do início. Sujeito à lotação do espaço.

Dia 6 de maio, sábado
De 16h às 22h
– Apresentação da “Jazzê” – encontro dos poetas Allan da Rosa (SP) e Ricardo Aleixo (BH).
– Leitura do roteiro cinematográfico “Pare e Siga”, com Adyr Assumpção e Zora Santos (BH)
– Mostra de resultado do Laboratório do Tropeço: experimentos para elaboração de uma poética da encruzilhada, de Anderson Feliciano (BH)
– Apresentações de cenas do projeto Segunda Preta
– Debate com Adyr Assumpção, Anderson Feliciano, Allan da Rosa, Ricardo Aleixo, Grazi Medrado e Soraya Martins. Provocadores: Ana Maria Gonçalves e Renato Noguera. Tema: O corpo como lugar de discurso: uma atividade primaria de fabulação.
Local: Espaço LIRA | Rua Albuquerque Maranhão, 76, esquina com Adolfo Bezerra de Menezes – Campo Alegre

Dia 7 de maio, domingo – Evento fechado para os artistas participantes *
De 12h às 20h
– Ípàde
Local: Residência Dos Silva (Anderson Feliciano) | Rua Anil, 132 – Glória

* Gentileza não divulgar nos roteiros. Caso haja interesse na cobertura deste encontro, gentileza agendar com a assessoria de imprensa.

:: Serviço ::

Projeto Polifonia Negra
De 3 a 7 de maio
Entrada gratuita

Programação e Informações no site www.polifonicanegra.com

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