Benilda Brito se define como uma mulher negra, lésbica, de axé, 50+, quilombola e ativista do movimento de mulheres negras. Cofundadora do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras, de Minas Gerais, a militante tem atuado na linha de frente da mobilização da segunda Marcha Nacional das Mulheres Negras.
A mineira começou sua trajetória de militância através da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e do Grupo de União e Consciência Negra (GRUCON). No ano de 1987, ajudou a fundar o coletivo Nzinga, focado em ações para reparação e Bem Viver das mulheres negras.
Ao fundar o coletivo com outras parceiras, as integrantes definiram também quais seriam as suas formações. Como Benilda gostava de falar, o curso escolhido para ela foi Pedagogia. “Sou pedagoga por uma decisão política do movimento”, diz.
Com mais de três décadas de atuação, o Nzinga segue com o propósito inicial: o enfrentamento aos racismos, seja o ambiental, o climático, o estrutural, o religioso ou o escolar. “Esse é o nosso compromisso”, enfatiza.
A pedagoga se recorda das articulações para a primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015. Organizaram eventos e rifas para a arrecadação financeira e também a realização de uma marcha em Minas Gerais, anterior ao ato em Brasília. Segundo seu relato, o processo foi desafiador, já que o estado mineiro tem mais de 853 municípios.
“Tivemos a sensação do abraço da resistência, de reverenciar a nossa ancestralidade, porque as ialorixás foram na frente, abrindo a marcha, e a gente marcou muita presença na lógica do bem viver, afirmando a nossa identidade coletiva”, lembra, sobre o ato nacional em 2015.
Olhando para os últimos 10 anos, a partir da realização da primeira Marcha, Benilda considera que pouco mudou e que as reivindicações escritas na carta de 2015 permanecem atuais. No entanto, avalia que, na última década, houve aumento da capacidade organizativa do movimento de mulheres negras.

Essa capacidade de organização se torna nítida nas articulações para a Marcha de 2025. Benilda ressalta que mulheres de variados territórios têm mostrado interesse em participar e reconhecido a sua importância política.
Sobre os conceitos de reparação e bem viver, que dão título à Marcha, a ativista afirma: “tem que reparar para que a mãe consiga dormir de noite sem se preocupar do filho ser morto pela polícia, para que as crianças tenham acesso a uma escola antisexista e antirracista, para que mulheres negras possam estar no mercado de trabalho ganhando igual ou superior a quem exerce a mesma função”.
Acrescenta ainda que o Bem Viver é uma continuidade da reparação, pois cria condições de igualdade e ações para promover qualidade de vida das pessoas negras. “Promover reparação para garantir o Bem Viver”, resume.
Após a Marcha, Benilda se prepara para sair da linha de frente do ativismo do movimento de mulheres negras, que tem atuado há mais de quatro décadas. Explica que se sente cansada e pretende contribuir de outra forma, como na preservação da memória dessas atuações. “Estou finalizando essa carreira, mas me sinto muito feliz e realizada, tanto politicamente, como profissionalmente, com tudo que o movimento de mulheres negras me proporcionou”, afirma.
A conversa com Benilda Brito integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.