Besouro: O Filme

Fonte: Besouroofilme.com.br

 

IGATU (BA) – A primeira coisa que o diretor João Daniel Tikhomiroff diz para quem quer entender a história de seu Besouro é que o filme sobre o lendário capoeira baiano não é uma reconstituição histórica. E também é mais que um filme de ficcão. “É um filme de fantasia, baseado nas lendas a respeito do Besouro”, diz o diretor. As lendas a gente deixa para você conhecer no segundo semestre de 2009, quando o filme for lançado. Mas nunca é demais conhecer um pouco da história real do Besouro para entender ainda melhor a fantasia do filme. Então vamos lá:

 

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Besouro: O Filme

 

Besouro Mangangá, ou Besouro Cordão de Ouro, era o apelido de capoeira de um baiano de Santo Amaro da Purificação chamado Manoel Henrique Pereira, que viveu entre 1897 e 1924. Filho de João Grosso e Maria Haifa, nunca teve uma profissão certa, mas era muito popular na cidade por suas extraordinárias habilidades na capoeira, que teria aprendido de um tio. O apelido, Besouro, teria vindo da comparação de suas habilidades com a capacidade improvável do besouro de voar apesar de seu pesado exoesqueleto.

 

Entre as lendas a respeito do mestre, diz-se que ele tinha a capacidade de desaparecer. O que é fato, porém, é que Besouro era conhecido por ter “corpo fechado” (expressão usada no Candomblé para designar pessoas protegidas por alguma de suas entidades) e, principalmente, por não ter um bom relacionamento com a polícia. Muito menos com os fazendeiros da região do lugarejo de Maracangalha, onde dizem que realizou a maior parte de suas façanhas. Após sua morte, em 1924, a memória de Besouro passou décadas restrita à comunidade negra e dos capoeiristas. Somente em 2007, uma placa em sua homenagem foi colocada na Santa Casa de Misericórida de Salvador, local onde Besouro faleceu, aos 27 anos.

 

Há muito poucas publicações sobre a vida de Besouro. Uma delas, o livro “Feijoada no Paraíso – a saga de Besouro, o capoeira”, de Marco Carvalho, inspirou o diretor João Daniel a escrever o roteiro de seu filme. O personagem também é citado no livro em Mar Morto, de Jorge Amado, como “o mais valetnte dos negros do cais de Santo Amaro”. A maior parte do conhecimento público a respeito dele, porém, é perpetuada pelas músicas a seu respeito, comuns nas rodas de capoeira há 80 anos. Uma delas fala justamente sobre as, digamos, ‘indisposições’ entre Besouro e as forças de segurança pública de uma Bahia que ainda subjugava os negros recém-libertos da escravidão e tratava como crime de vadiagem a reunião para danças de capoeira:

 

 

 

Seu Chefe de polícia
O barulho está formado
Tem um cara lá na praça
Batendo no seus soldados.
Capitão saiu correndo,
Tenente está desmaiado!

Seu cabra, conte direito
Não me faça confusão!
Como pode um só homem
Batendo num batalhão?

Mas esse cara é diferente,
Não se pode confiar.
Dizem até que não é gente
E vem lá de Magangá

Pois então chame reforço
Chame uma guarda inteira!
Ele é filho do Demônio,
É Besouro Capoeira!

Zum zum zum, Besouro Magangá
Bateu foi na polícia
De soldado à general!

***
Uma outra característica forte de Besouro, o corpo fechado, aparece nesta outra canção abaixo:

Cadê o Besouro

Besouro Mangangá era homem de corpo fechado
Bala não matava e navalha não lhe feria
Sentado ao pé da cruz enquanto a polícia o seguia
Desapareceu enquanto o tenente dizia

Cadê o Besouro
Cadê o Besouro
Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro

Besouro era um homem que admirava a valentia
Não aceitava a covardia Maldade não admitia
Com a traição quebrou-se a feitiçaria
Mas a reza forte só Besouro quem sabia
Cadê o Besouro Cadê o Besouro
Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro

Cadê o Besouro
Cadê o Besouro
Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro

Atrás de Besouro, o tenente mandou a cavalaria
No estado da Bahia
E Besouro não sabia
Já de corpo aberto,
Fez sua feitiçaria
Cada golpe de Besouro Era um homem que caia

Cadê o Besouro
Cadê o Besouro
Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro

besouro_desenho***

A mais famosa música sobre Besouro, contudo, é essa abaixo, conhecida por todo mundo que já jogou capoeira. Conta a trajetória da vida do herói, que terminou tragicamente assassinado. Ninguém sabe exatamente como ele morreu, mas rezam as lendas – que a música abaixo reproduz – de que ele foi ferido com uma faca de ticum, espécie de madeira que, de acordo com as tradições do candomblé, é o único material capaz de ferir quem tem corpo fechado.

Besouro preto

Quem é você que acaba de chegar

Eu sou Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Eu vim lá de Santo Amaro
Vim aqui só pra jogar
Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Eu sou Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Ando com corpo fechado
Carrego meu patuá
Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Me chamam Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Bala de rifle nào me pega
Que dirá faca de matar
Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Aqui em Maracangalha
Você não vai escapar
Contra faca de tucum
Ninguém pode se salvar
Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

 

Matéria original: Besouro: O Filme

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