Bill Clinton cita projetos brasileiros como solução para problemas mundiais

A desigualdade social, a crise financeira e o aquecimento global são os principais desafios mundiais hoje, e alguns projetos brasileiros podem trazer a resposta para essas questões. A avaliação é do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que esteve em São Paulo nesta segunda-feira (1º) para apresentar uma palestra a convidados de uma universidade particular.

Por Edilson Saçashima, da UOL

Foto: veja.com/AP

Para reduzir a desigualdade social e combater a pobreza, Clinton deu como exemplo de iniciativa eficiente o projeto do Bolsa Escola, desenvolvido no governo FHC (1995-2002). “Quando fui presidente, o Brasil apresentou o Bolsa Escola, um projeto que pagava os pais para ter os filhos na escola”, disse.

Para Clinton, promover a sustentabilidade contra o aquecimento global é outra questão que se apresenta aos governantes. Destacou o Brasil como uma das nações que procuram alternativas aos combustíveis fósseis com o programa de produção de biocombustíveis. “O Brasil tem a frota de carros mais limpa do mundo por possibilitar o uso de álcool e de gasolina como combustíveis… E o país foi o primeiro a usar gás em transporte de massa”, disse. O desafio seria conseguir o aumento da produção de biocombustíveis sem afetar as florestas e aumentar o desmatamento. “O Brasil é uma fonte única de oxigênio para o mundo. Cerca de 20% de oxigênio do mundo de origem não oceânica vem da floresta amazônica”, disse.

A exceção ficou por conta da crise financeira. Se o Brasil não tem uma resposta para este problema, ao menos valeu uma citação bem-humorada. Clinton lembrou a declaração do presidente Lula de que a crise teria sido obra de “brancos de olhos azuis e cabelos loiros”. A seguir, disse que a Islândia, “um país de gente de olhos azuis e cabelos loiros”, foi a mais afetada pela crise.

Mudança, mas como?
De certa forma, a palestra de Bill Clinton, um ex-presidente democrata que ficou oito anos no poder antes dos dois mandatos do republicano George W. Bush, parecia refletir um contraponto ao ímpeto realizador do recém-empossado Barack Obama. Enquanto o atual presidente foi eleito sob o mantra do “yes, we can” (“sim, nós podemos”), Clinton parecia propor a reflexão de como alcançar a mudança. Durante a palestra, a expressão “how?” (“como?”) foi repetida em várias ocasiões.

Segundo uma reportagem recente do The New York Times, Bill Clinton tenta respeitar uma certa distância da nova administração. Ele fala com o vice-presidente Joe Biden cerca de uma vez por semana e com menos frequência com ex-colaboradores que ocuparam altos cargos em seu governo, segundo o jornal. “Mas ele deixa Obama em paz”, escreve o NYT.

No entanto, ao ter sua mulher, a atual secretária de Estado Hillary Clinton, em um alto cargo no atual governo norte-americano, Bill Clinton parece procurar seu papel e seu lugar na “era Obama”, escreve o jornal.

Aos 62 anos, com a voz segura mas que expressa certo cansaço, Bill Clinton incentivou em sua palestra, realizada na Universidade Anhembi Morumbi, o aparecimento de novos empreendedores sociais. “Eu gostaria que todas as instituições de ensino superior do mundo criassem uma ONG”, disse. Era a versão clintoniana do “yes, we can”, ou seja, que todos poderiam ser um líder. Ou um recado diplomático para o mundo tirar dos ombros de Obama todo o peso da esperança de mudança.

Matéria original: Bill Clinton cita projetos brasileiros como solução para problemas mundiais

+ sobre o tema

Filantropia comunitária e de justiça socioambiental para soluções locais

Nasci em um quintal grande, que até hoje é...

Macaé Evaristo manifesta preocupação com exposição excessiva às bets

Recém-empossada no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania,...

Liderança deve ir além das desgastadas divisões da esquerda e da direita

Muitos líderes preferem o caminho da enganação ao árduo...

Desigualdade salarial: mulheres ganham 11% a menos no DF, mesmo com lei de equidade em vigor

A desigualdade salarial entre homens e mulheres no Distrito...

para lembrar

Ensino, domesticação e desigualdade

“Reforma” do ensino médio de Temer pode basear-se em...

Nas favelas, verde-oliva é cor de medo

Intervenção militar nas comunidades é sinônimo de mais supressão...

Curso para drag queens reforça reconhecimento e atrai até mulheres

Profissão, que nasceu autodidata, ganha especialização em Santos (SP)....

No Brasil, 4,5 milhões de crianças precisam de uma vaga em creche

Em todo o país, 4,5 milhões de crianças de 0 a 3 anos estão em grupos considerados mais vulneráveis e deveriam ter o direito...

Nordeste e Norte elegeram mais prefeitas mulheres nos últimos 20 anos

Mossoró, município de 265 mil habitantes no interior do Rio Grande do Norte, teve prefeitas por cinco vezes desde 2000, a maior marca brasileira entre cidades...

Candidatos ignoram combate ao racismo em debates em SP, 2ª capital mais desigual do país

As políticas de combate ao racismo foram praticamente ignoradas até agora nos debates dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Os encontros ficaram marcados por trocas de acusações,...
-+=