Bolsonaro se nega a receber a Anistia Internacional e lideranças indígenas que exigem a proteção da Amazônia e dos povos tradicionais

Na manhã desta terça-feira (26), a Anistia Internacional Brasil realizou uma ação na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, junto a três lideranças indígenas para marcar a entrega a petição que reuniu mais de 162 mil assinaturas de 53 países do mundo exigindo que o Presidente Jair Bolsonaro proteja a Amazônia e os povos tradicionais que nela vivem. Na mesma ocasião, a organização lançou a pesquisa “Cercar e trazer o boi: pecuária bovina ilegal na Amazônia brasileira”, em que documentou, em terras indígenas e reservas, como a atividade ilegal da pecuária na Amazônia contribui para o desmatamento e violações de direitos dos povos da floresta.

Da Anistia Internacional Brasil 

Ato em frente ao Palácio do Planalto na manhã desta terça-feira (26). Foto de Thais Mallon

A ação simulou uma reunião com o presidente Bolsonaro, uma vez ele negou o pedido oficial feito pela Anistia Internacional Brasil para uma audiência para tratar do resultado do relatório e receber a petição. À mesa, estavam Jurema Werneck, diretora executiva da organização, o cacique André Karipuna, a liderança Éric Karipuna, ambos da terra indígena Karipuna, em Rondônia, Giovani Tapura, liderança da terra indígena Manoki, no Mato Grosso, e uma cadeira vazia, reservada ao presidente, marcando sua ausência. As três lideranças são de comunidades visitada pela Anistia Internacional para a produção do novo relatório.

“Já que a audiência não foi possível, nós diremos aqui, publicamente, tudo o que é preciso que o Presidente entenda: há graves violações de direitos humanos acontecendo junto com a crise ambiental causada pela destruição dos nossos biomas. Falamos aqui da Amazônia, sem esquecer outros territórios, povos e populações afetadas pelo desmatamento, pelos incêndios criminosos, pela destruição de ecossistemas e dos modos de vida tradicionais. Essa crise de direitos humanos e a crise ambiental é causada pela falha do Presidente da República em cumprir e fazer cumprir as obrigações de proteger a floresta e os povos que nela vivem. Ao contrário, o presidente vem enfraquecendo a capacidade de atuação de instituições como a FUNAI, IBAMA e ICMBio, ao mesmo tempo em que tem se expressado de forma perigosa em relação a indígenas e o ambiente e aos direitos humanos, que são direitos de todos os humanos!”, disse Jurema.

As lideranças indígenas compartilharam suas demandas e as dificuldades enfrentadas em seus territórios:

“Queremos que o senhor Bolsonaro cumpra a lei. Estamos passando por um grande problema. O meu território está invadido por madeireiros e garimpo ilegal e grilagem de terras. Queremos que o senhor [Presidente] apenas cumpra a lei. Estamos sendo ameaçados, nossos direitos estão sendo violados. Muitas lideranças estão sendo executadas. Exigimos apenas que se cumpra a lei, é mais que dever, é obrigação”, reivindicou o Cacique André Karipuna.

“Lamentamos profundamente que o Presidente não tenha nos recebido nesse momento. Não somente os indígenas, mas todo povo da floresta vem constantemente sofrendo ameaças de morte e de retirada das áreas onde vivem. Esses povos dependem dessas áreas para sobreviver e o senhor Presidente vem tirando os direitos dos povos pela terra. Só lutamos para que seja cumprida a lei e que a proteção seja feita em todos os territórios”, reivindicou Eric Karipuna.

“Lamentavelmente não fomos recebidos numa casa pública. Estamos com um relatório em mãos que denuncia o que tem acontecido na Amazônia. Eu estou aqui, sou um indígena morador daquela terra. Tem acontecido violações do direito a viver na sua terra em paz. Na sua posse vimos você [Bolsonaro] jurando perante à bandeira, respeitar à Constituição e agora você sangra essa Constituição. A luta pela terra é a luta pelo pouquíssimo que nos resta”, lamentou Giovani Tapura.

Ao fim da ação, as assinaturas coletadas foram protocoladas junto ao Palácio do Planalto.

+ sobre o tema

Quilombolas pedem orçamento e celeridade em regularização de terras

O lançamento do Plano de Ação da Agenda Nacional...

É a segurança, estúpido!

Os altos índices de criminalidade constituem o principal problema...

Presidente da COP30 lamenta exclusão de quilombolas de carta da conferência

O embaixador André Corrêa do Lago lamentou nesta segunda-feira (31)...

Prefeitura do Rio revoga resolução que reconhecia práticas de matriz africana no SUS; ‘retrocesso’, dizem entidades

O prefeito Eduardo Paes (PSD) revogou, na última terça-feira (25), uma...

para lembrar

Caixa paga novo Bolsa Família a beneficiários com NIS de final 4

A Caixa Econômica Federal paga nesta terça-feira (23) a...

Mídia estrangeira destaca Lula como vítima de perseguição

Discurso duro do ex-presidente ao juiz Sergio Moro de...

Barbas de molho – Por: Mouzar Benedito

A história é velha, citada muitas vezes, "a...

A ausência de uma nova narrativa na Rio+20

Por Leonardo Boff   O vazio básico do...

Decisão de julgar golpistas é histórica

Num país que leva impunidade como selo, anistia como marca, jeitinho no DNA, não é trivial que uma Turma de cinco ministros do Supremo...

A ADPF das Favelas combate o crime

O STF retomou o julgamento da ADPF das Favelas, em que se discute a constitucionalidade da política de segurança pública do RJ. Desde 2019, a...

STF torna Bolsonaro réu por tentativa de golpe e abre caminho para julgar ex-presidente até o fim do ano

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quarta-feira (26), por unanimidade, receber a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) e tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)...
-+=