Bomba no protesto contra morte do menino Jesus

Na sexta-feira da Paixão de Cristo, a Polícia Militar do Rio de Janeiro usou bombas de efeito moral para dispersar cerca de 300 moradores do Morro do Alemão, que se revoltaram contra a morte brutal do menino Eduardo de Jesus; ele tinha apenas 10 anos e um sonho: queria ser bombeiro; a mãe do menino Eduardo de Jesus, a doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, diz que nunca irá se esquecer do policial que matou seu filho e também ameaçou matá-la; “Tiraram o sonho do meu filho. Tiraram todas as chances dele. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aí vem a polícia e acaba com tudo. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho?”; governo do Rio informou que os policiais que estavam na operação quando Eduardo foi morto foram afastados e responderão a inquérito

Do Brasil247

A situação é de tensão no Complexo de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Cerca de 300 moradores portestaram na tarde desta sexta-feira, 3, contra a ação da Polícia Militar no local que resultou na morte do menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, nessa quinta-feira, 2.

A PM destinou cerca de 200 policiais ao local e chegou a lançar bombas de efeito moral. Manifestantes mais exaltados revidaram atirando garrafas contra os policiais. Pessoas que participavam do ato precisaram cobrir os rostos com panos para amenizar os efeitos das bombas. Moradores de casas da Estrada do Itararé estenderam panos brancos em suas janelas pedindo paz.

O protesto se encaminhava para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Alemão, quando o tumulto começou. Houve correria e pessoas de idade, que participavam do protesto, precisaram se esconder em bares. O policiamento foi reforçado com policiais do Batalhão de Ações com Cães (BAC) no local.

Um vídeo postado na internet mostra moradores revoltados com PMs, chamados de “covardes” e “assassinos”. Eduardo de Jesus Ferreira é a quarta vítima de confrontos entre polícia e criminosos em 24 horas.

A doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, mãe de Eduardo, diz não ter dúvida de que foi um policial militar do Batalhão de Choque que matou seu filho. “Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, contou Terezinha ao G1.

Revoltada e abalada, Terezinha, mãe de outros quatro filhos, repetiu reiteradas vezes o sonho de Eduardo: ser bombeiro. “Tiraram o sonho do meu filho. Tiraram todas as chances dele. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aí vem a polícia e acaba com tudo”, lamentou. “Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho?”, questionava sem parar.

Dilma cobra punição

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira, 3, que espera haver punição pela morte de Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, atingido por bala perdida nesta quinta-feira durante tiroteio no Complexo de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio.

“Quero expressar minha solidariedade e sentimentos de respeito neste momento de dor a Terezinha Maria de Jesus, que perdeu o filho Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, no Complexo do Alemão. Espero que as circunstâncias dessa morte sejam esclarecidas e os responsáveis, julgados e punidos”, disse a presidente em nota divulgada à imprensa.

A Delegacia de Homicídios da capital fluminense instaurou inquérito na manhã desta sexta-feira para apurar as circunstâncias da morte de Eduardo de Jesus Ferreira. Foi feita perícia no local, e parentes do garoto foram ouvidos.

O governo do Rio informou, em nota, que os policiais que estavam na operação quando Eduardo foi morto foram afastados do policiamento nas ruas. Eles respondem a um Inquérito Policial Militar e tiveram suas armas recolhidas para a realização de exame balístico. A assessoria da Polícia Pacificadora informou que o patrulhamento segue reforçado com apoio do Comando de Operações Especiais (COE).

 

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