Brancos foram pedra no sapato de Obama, diz escritora; leia trecho

O presidente dos Estados Unidos Barack Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz nesta sexta-feira (9). O comitê do Nobel na Noruega destacou seus trabalhos para a paz na esperança de um futuro melhor.

O prêmio foi concedido ao presidente menos de nove meses após ele assumir a Presidência. Sua eleição, um acontecimento sem precedentes na história norte-americana, quebrou barreiras raciais e alterou para sempre o panorama político mundial.

A história do líder é de admiração, assim como a de sua mulher Michelle que, após a infância pobre em Chicago, venceu barreiras sociais e raciais para estudar em duas das melhores universidades do mundo, Princeton e Harvard.

No livro “Michelle Obama: A Primeira-Dama da Esperança”, a autora Elizabeth Lightfoot revela o que está por trás da mulher que é amante, mãe das filhas e maior inspiração para o homem mais poderoso do planeta.

Leia abaixo trecho do livro.

“Durante as importantes eleições primárias do Partido Democrata na Pensilvânia em abril de 2008, Michelle Obama participou do programa The Colbert Report, exibido no canal Comedy Central. A sua presença se deu poucos dias depois do assim chamado episódio Bittergate, que –nesse caso é preciso retomar– se refere ao comentário em que Barack Obama afirmou compreender como as circunstâncias econômicas nas zonas rurais dos Estados Unidos –e a falta de medidas do governo– podem ter suscitado em alguns norte-americanos um sentimento de amargura, levando-os a se agarrarem a armas, religião e antipatia por aqueles que são diferentes.

Suas observações, feitas em um evento privado de arrecadação de fundos em São Francisco, Califórnia, foram acusadas de elitistas, e é quase certo que lhe custaram votos vitais da classe trabalhadora na Pensilvânia, levando Obama a uma significativa derrota nesse estado tão importante, embora sem alcançar a margem de dois dígitos como Clinton havia previsto. A partir disso, na disputa pela indicação democrata, os eleitores brancos da classe trabalhadora foram uma grande pedra no sapato de Obama. (Pelo menos até ele convidar o senador Joe Biden, de Delaware, para integrar a sua chapa, e até, a poucas semanas das eleições, a economia entrar em queda livre e Obama, de repente, afigurar-se como o melhor candidato para lidar com a crise econômica.)

Stephen Colbert, que transmitia o seu programa naquela semana direto da Filadélfia, de imediato abordou a agitada polêmica em torno de Bittergate. “Todo mundo sabe que você e seu marido são elitistas”, desfechou ele, enquanto Michelle, que usava um elegante vestido social azul vivo e sem mangas, que lhe dava um ar de “It Girl” da alta sociedade, como ela havia sido recentemente rotulada pela revista Vogue, preparava-se para a entrevista. “Fale sobre a sua infância privilegiada na zona sul de Chicago. Quantos talheres de prata vocês tinham?” Sem pestanejar, Michelle respondeu: “Nós tínhamos quatro talheres. E, depois que meu pai conseguiu um aumento na fábrica, passamos a ter cinco talheres”.

“Que bacana”, observou Colbert.

michelle-obama-livroSe, por um lado, a sua resposta revela muito sobre a agudeza de espírito, humor e espontaneidade de Michelle, por outro, também diz algo sobre a criança que ela foi e sobre quem ela se transformou mais tarde. E se existe algo bacana nessa história, como os fictícios talheres de prata dos seus pais, só se realizou por meio do trabalho árduo, da determinação e do apoio incondicional de sua família.

Se Marian e Fraser Robinson tiveram ou não mais do que quatro talheres de prata em seu faqueiro quando a sua filha Michelle LaVaughn Robinson nasceu, em 17 de janeiro de 1964, pode ser uma boa aposta, porém as coisas certamente não foram fáceis para a família de quatro pessoas que vivia em um apartamento de um quarto na zona sul da cidade, uma região que ficou famosa na década de 1970, como meu amigo Ben afirmou em um de seus artigos, por causa do sucesso de “Bad, Bad Leroy Brown”. (Lembram-se? Sucesso número um de 1973 –quando Michelle tinha 9 anos de idade–, a canção de Jim Croce começa assim: “Bem, zona sul de Chicago é a pior parte da cidade, e se você for até lá é melhor ter cuidado com um homem chamado Leroy Brown. Ele é mau, mau, Leroy Brown, o pior homem de toda a droga desta cidade…”.)

Fraser Robinson trabalhava no turno da noite na sala das caldeiras em uma estação de tratamento de água da cidade, enquanto Marian ficava em casa para cuidar de Michelle e do seu irmão, Craig, um ano e quatro meses mais velho que Michelle. Todos os dias, o pai de Michelle saía para trabalhar resignadamente, mesmo depois de ser diagnosticado com esclerose múltipla com apenas 30 anos de idade, e, embora a sua saúde tenha sofrido um declínio constante, ele conseguiu enviar não apenas um mas dois fi lhos para a universidade.

E não para qualquer universidade, mas para Princeton, que está entre as escolas mais difíceis de entrar nos Estados Unidos e talvez no mundo todo. A mãe de Michelle voltou a trabalhar quando sua filha havia crescido, deixando o seu último emprego em um banco apenas mais recentemente para poder estar com suas netas, Malia e Natasha, esta apelidada Sasha, sempre que Michelle estivesse fora.

“Fui criada em uma família da classe trabalhadora na zona sul de Chicago”, contou Michelle para uma plateia na Universidade da Carolina do Sul em janeiro de 2008. “Minha mãe ficou em casa para cuidar de nós até o colégio, meu pai era funcionário da prefeitura e cuidou da família a vida inteira. A única coisa extraordinária que aconteceu em minha vida é que um homem como o meu pai conseguiu sustentar mulher e dois filhos com um salário de servidor público.”

A infância de Michelle foi marcada pelas circunstâncias de nascer negra, crescer em uma das maiores cidades dos Estados Unidos e em uma região da cidade que possui uma das maiores concentrações de afro-americanos em todo o país –se não for a maior.

A Chicago em que Michelle nasceu mostrava uma relativa segregação, um lugar em que os negros ainda encontravam menos oportunidades de trabalho. Em seu livro “A Audácia da Esperança”, Obama descreve como os negros tiveram que desdobrar esforços para compensar os seus baixos rendimentos, os bairros mais violentos em que tinham que viver e os limitados recursos que podiam oferecer a seus filhos.

Todas as famílias têm histórias sobre como era a vida de seus antepassados. Na casa dos Robinson, uma das histórias mais lembradas era sobre o avô materno de Michelle. Carpinteiro, ele não conseguiu se filiar ao sindicato por causa da cor da sua pele. Como resultado, não teve acesso aos melhores empregos da área da construção na cidade.”

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“Michelle Obama: A Primeira-Dama da Esperança”
Autor: Elizabeth Lightfoot
Editora: Gente
Páginas: 280

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