Brasil sai da rota do investimento no 3º setor

Por: ANDRÉ PALHANO

Pesquisa mostra que a redução no fluxo de recursos de organizações estrangeiras para o país pode chegar a 50% neste ano

Motivos são a consolidação brasileira como economia em acelerada expansão e os efeitos da crise econômica nos países desenvolvidos


A consolidação do Brasil como economia emergente em rota acelerada de expansão e os efeitos da crise financeira nos países desenvolvidos, sobretudo os europeus, vêm reduzindo drasticamente o fluxo de recursos de organizações internacionais a projetos sociais no país.

Pesquisa realizada pelo Instituto Fonte a partir de uma amostra com 41 organizações estrangeiras com atuação no Brasil revela que essa queda pode chegar a quase 50% neste ano em comparação com 2009.

Os motivos? A crise financeira global, a mudança de prioridade para outras regiões do planeta, com destaque para a África, e a mudança de estratégia das organizações. A pesquisa revela ainda que cerca de 15% das organizações internacionais já preveem uma retirada completa de seus investimentos no Brasil até 2015.

Aos motivos acima acrescente-se para esse item o “alto desenvolvimento socioeconômico brasileiro” e a “crescente capacidade de captação de recursos internos”.

“É preciso ter cuidado com a afirmação de que esse panorama de queda nos recursos caracteriza um movimento estratégico da cooperação internacional, uma tendência efetiva, pois o impacto da crise global certamente tem um peso importante nesse contexto”, pondera o coordenador do Instituto Fonte, Arnaldo Motta.

“Por outro lado, existem elementos da pesquisa que reforçam a percepção de uma mudança estrutural, entre eles a prioridade crescente da destinação de recursos para o continente africano e a visão externa de que o Brasil é um país cada vez mais rico e desenvolvido.”
Há também um elemento novo: a destinação de recursos a projetos sociais em regiões que não enfrentavam problemas. Uma realidade cada vez mais explícita, por exemplo, no continente europeu, onde diversos países ainda enfrentam dificuldades no processo de recuperação econômica.

“Se antes tínhamos 100% dos recursos de projetos sociais aportados nos países em desenvolvimento, hoje parte desses recursos começa a priorizar problemas internos, que estão surgindo na esteira da crise, por exemplo os relacionados às altas taxas de desemprego ou à imigração”, aponta um dos coordenadores da fundação italiana AVSI no Brasil, Gianfranco Commodaro.


Mudança
No caso do Brasil, a percepção crescente é a de “uma mudança efetiva no padrão econômico e de renda, uma realidade que passa a ser considerada nas análises de destinação dos recursos das grandes fundações internacionais”, completa Commodaro, lembrando que hoje o próprio setor público brasileiro atua socialmente em outras regiões do mundo, como Moçambique e Angola. Inclusive com aportes financeiros.

O papel das ONGs e empresas nesse contexto foi tema no último Congresso Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), realizado neste mês no Rio, durante um painel com o sugestivo nome de “Bye Bye Brazil: as ONGs diante da saída dos recursos internacionais”.
Segundo o secretário-geral do Gife, Fernando Rossetti, as discussões mostraram que essa queda na alocação de financiamentos externos, que alguns já chamam de “crise do terceiro setor”, reflete mais uma mudança de orientação do que falta de recursos.

“O que estamos vendo é uma mudança de orientação na alocação desses recursos, que agora priorizam mais parcerias com o setor público do que uma alocação direta para as organizações”, afirma Rossetti.

Para as empresas, aumenta a responsabilidade na atuação social via investimento social privado. “As empresas têm um limite que é a própria marca. Aqui e no mundo elas não atuam diretamente em temas mais polêmicos, como as questões de direitos humanos dos presidiários, reforma agrária ou corrupção do setor público, pois isso representa um risco grande de imagem”, aponta.

A solução, segundo ele, passa pelo aumento do número de fundações familiares e fundos independentes de atuação social, prática bastante difundida nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda quase inexistente no Brasil.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

 

Nordeste e Norte são as prioridades

Outro movimento detectado pela pesquisa do Instituto Fonte com as organizações internacionais foi a mudança de prioridade em relação às regiões que recebem os recursos estrangeiros voltados a projetos sociais.

As regiões Norte e Nordeste aparecem como principais alvos de alocação, enquanto Sul e Sudeste registram quedas proporcionalmente maiores do investimento oriundo da cooperação internacional.

“As regiões Norte e Nordeste são as que apresentam maior disparidade das condições sociais”, afirma o coordenador do Instituto Fonte, Arnaldo Motta.

As duas regiões, porém, são as que recebem a menor fatia de recursos do investimento social privado no Brasil, de acordo com dados do censo realizado pelo Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

O que explica tamanha diferença entre demanda e realidade? A concentração do investimento social privado em fundações ligadas a empresas, que acabam apoiando mais os projetos e organizações nos grandes centros econômicos e populacionais. Seja pela proximidade geográfica, seja pelo maior retorno de imagem.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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